segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Deus: Analogias Religiosas nos Jogos

Uma visão artística do Apocalipse

Jogos muitas vezes são melhores em transmitir o horror do que a maioria das outras mídias, devido a necessidade de nossas respostas diretas em tempo real para que a progressão seja possível.



"Nós impomos a ordem sobre o caos da vida orgânica. Você existe porque nós permitimos, e vai morrer pois o exigimos." Estas são as palavras de Sovereign, o primeiro reaper que você encontra na trilogia Mass Effect. A partir deste momento, você descobre que toda a existência foi essencialmente guiada por essas criaturas "divinas". E, por algum motivo além da compreensão dos meros mortais, eles estão voltando para acabar com o que permitiram que se desenvolvesse - toda a vida inteligente e avançada da galáxia.

A trilogia inteira nos prepara para a guerra contra tais seres que são mais poderosos do que qualquer coisa imaginável, uma vez que eles repetiram esse ciclo (esperar o desenvolvimento de civilizações avançadas e extermina-las. para então voltar para o espaço profundo) incontáveis vezes - sempre obtendo sucesso.

Basicamente os "deuses" querem que toda a vida acabe. Isso não é o niilismo escrito nas estrelas - é o corredor da morte em uma escala cósmica - uma vez que tudo caminha para a guilhotina. Combater tal destino é fútil; como Harbinger coloca em Mass Effect 2, a resistência mortal se assemelha a "poeira lutando contra ventos cósmicos." A totalidade da existência é pouco mais do que uma fazenda de formigas para deuses indiferentes.

A animosidade cósmica para com a criação encontra uma nova reviravolta na série Dragon Age.

De acordo com a religião dominante na série (a chantry, uma analogia à igreja católica medieval), o Criador é a divindade toda poderosa que se afastou de suas criações, uma vez que cinco grandes magos do império Tevinter (analogia ao império romano) cometeram o pecado mais hediondo ao adentrarem no santo espaço do Criador, a Cidade Dourada, para tentar usurpar seu trono e restaurar a antiga glória do império. Devido a isso e ao "pecado do orgulho", eles fundamentalmente macularam a cidade do Criador, transformando-a na Cidade Negra.

O que antes era um espaço para o Criador e a vida após a morte para os fiéis da chantry se tornou corrupção, devido ao orgulho mortal e a ganância. Céu, então, tornou-se inferno.

O Criador amaldiçoou os magos, tornando-os Darkspawn, a fonte do mal que paira sobre grande parte da série, após seu regresso ao mundo mortal. Desde então o criador não responde a nenhuma oração e não concede desejos; ele é um deus indiferente às suas criações, efetivamente punindo todos pelos pecados de poucos.

Essa ideia de deuses todo poderosos é presente tanto nas franquias supra mencionadas da BioWare como em outros jogos e universos (The Witcher, Senhor dos Anéis, Assassin's Creed - a lista é grande!). Os Reapers destróem pois foram designados para isso, enquanto o Criador o faz por conta da ganância de suas ingratas criações. O Criador é Victor Frankenstein, enquanto os Reapers são crianças equipadas com lupas lidando com insetos.

Não há conforto a ser encontrado nessa ideia de divindades ou deuses. Tais jogos se afastam dos ensinamentos de um Deus amoroso, ou pelo menos tolerante, como é na maioria das religiões reais e se apegam apenas ao lado apocalíptico da coisa.



Tais histórias também descartam a ideia do ateísmo. O ateísmo é a crença de que deuses não existem. Como ateu você é cético, devendo confrontar um universo indiferente. Se não há nenhum deus respondendo orações ou concedendo desejos, somos livres para criar um mundo em que gostaríamos de viver ou para sermos egoístas sem o perigo de uma retribuição divina futuramente.

Enquanto o religioso tenta encontrar respostas e paz nos braços de um Deus amoroso, os ateus podem encontrar poder e moralidade na ideia de que se isso é tudo que existe, um objetivo digno seria torná-lo habitável e justo ou se aproveitar da vida ao máximo que puder sem pensar em karma. Ambas as formas de pensar tem o objetivo de gerar algum conforto para nossa inquieta e misteriosa existência.

O interessante é que nos dois jogos mencionados, há uma visão terrível de um universo com divindades. Eles apontam para o céu e dizem que não só Deus existe, como ele tem poderes palpáveis. Você não será salvo por qualquer intervenção externa. Na melhor das hipóteses, os deuses destes mundos são indiferentes. Na pior, a nossa destruição final.

Dragon Age pelo menos nos traz alguma esperança. Foi a ação humana que levou ao antagonismo do Criador; mas também é a ação humana que pode reconquistar seu favor como é revelado ao longo do jogo:
"A Profeta Andraste ensinou que o mal existe por conta do orgulho da humanidade. Por tal razão, o mundo trouxe os darkspawn sobre si mesmo. Quando o Criador retornar, ele destruirá todo o mal."
Embora esta linguagem de vítima e culpa seja uma analogia a muitos dos mitos de criação de nossa história (humanos que enfurecem a Deus ou deuses e sofrem com banimentos, inundações, pragas e etc.), ela coloca a esperança nas mãos de mortais. O tropo "Devil But No God" é enraizado nessas histórias, passando a ideia de que mortais, como nós, podemos superar obstáculos aparentemente impossíveis.

Independentemente do quão difícil é a nossa luta, o ponto é que algum tipo de salvação é alcançável por meros mortais.

No entanto, eu não consigo parar de pensar na futilidade temporal disso tudo: Quanto tempo a existência vai durar? Qual o sentido de tudo que já sentimos e aprendemos? Para que continuar lutando? Estas são questões que o Comandante Shepard (Mass Effect) e o Inquisitor (Dragon Age: Inquisition) precisam enfrentar. O melhor que podemos fazer seria externar o que há de bom em cada um de nós para inspirar aos outros ao nosso redor a também desenvolverem o melhor deles, criando uma existência em sociedade paradigma.

A BioWare criou universos aterrorizantes que vão além dos nossos conceitos divinos, transformando algo poderoso e oculto em realidade, no sentido de que se acreditamos em divindades, sabemos que estamos sendo constantemente observados e julgados por uma força maior. O verdadeiro medo tem suas origens no que nos é desconhecido.

A aparente impossibilidade de uma resposta me deixa inquieto - a possível futilidade disso tudo. Eu admiro o ideal de Shepard, que lutou tanto e por tanto tempo, contra algo que é ridiculamente poderoso mas, ao mesmo tempo, reflito se valeria a pena na vida real. Eu não conseguiria entender o ponto de viver num mundo como Thedas, de Dragon Age, onde meu próprio Criador me quer o mal.

Possuir a dúvida sobre a existência de um poder superior é preferível a saber com certeza que esse ser todo poderoso existe e quer incendiar tudo o que criou, como algumas vozes teológicas pregaram e pregam ao longo de nossa história. A ignorância pode ser uma benção.

O que acredito é que existimos sim por algum motivo além do mero acaso. Tudo o que fazemos, aprendemos, vivemos e sentimos não deve ser descartado apenas com a nossa morte. A ideia biológica de nascer, comer, reproduzir e morrer não explica nossa complexidade cerebral, a possibilidade de um texto como este ser escrito, o amor e a dor que nossos corações são capazes de sentir e o sentimento de paz único ao fazermos o bem para outra pessoa.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Alma Gêmea?


I gotta stay high all the time to keep you off my mind

Filósofos e escritores adoram refletir sobre a existência de almas gêmeas. Tendem a vê-las como espelhos de si mesmos.

Alguns descrevem sua alma gêmea como "A outra metade de mim... o meu reflexo." Emily Bronte escreveu: "Do que quer que nossas almas sejam feitas, a dele e a minha são da mesma coisa."

Os que possuem uma alma gêmea enxergam o mundo da mesma maneira que aquela pessoa. Conhecer alguém que possui a capacidade de terminar suas frases, ou até mesmo adivinhar o que você está pensando, gera uma atração muito poderosa. Faíscas voam e você se sente compreendido.

Quando química física entra na mistura, a razão se rende à emoção.



Muitos de nós acreditamos que deveriámos gastar muito tempo com nossas almas gêmeas. O ideal seria se casar com eles.

Eu digo: péssima ideia.

Uma ideia melhor seria seguir a sabedoria de duas Elizabeths que concebem um relacionamento profundamente gratificante, o qual não envolve duas pessoas que se enxergam como iguais.

De acordo com Elizabeth Barrett Browning, uma relação ideal é aquela em que ambos não se refletem, mas inspiram uns aos outros:
  
"Eu te amo, não só pelo que você é, mas pelo que eu sou quando estou com você. Eu te amo, não só pelo que você fez de si mesmo, mas pelo que você está fazendo de mim. Eu te amo pela parte de mim que você traz para fora."

Elizabeth Gilbert vai além, afirmando que uma relação real com uma alma gêmea pode até ser perigosa:

"Uma verdadeira alma gêmea é um espelho... Uma verdadeira alma gêmea é provavelmente a pessoa mais importante que você conheceu ou vai conhecer, pois ela vai derrubar seus muros e te acordar pra vida. Mas viver com uma alma gêmea para sempre? Nah, muito doloroso. Almas gêmeas: elas entram em sua vida apenas para lhe revelar uma outra camada de si mesmo para você, e então eles saem."

Ficar com alguém que vê o mundo da mesma maneira que você pode ser muito interessante e emocionante, mas a emoção pode se desgastar. E pior, muito tempo com sua alma gêmea pode impedi-lo de tornar-se (e permanecer) a melhor versão de si mesmo.

Por exemplo: se ambos tendem a pensar muito ou possuem tendências de auto-absorção (como muitas pessoas que gastam muito tempo pensando em encontrar suas almas gêmeas o fazem), nenhum de vocês vai reconhecer essas tendências no outro. Se ambos são tímidos e preocupados em não ferir os sentimentos das pessoas, provavelmente não vão se comunicar diretamente. Por outro lado, se ambos são cabeças quentes e tendem a ser muito diretos, haverá muitas brigas e a tendência é de casualidade com os sentimentos um do outro. Estes tipos de dinâmica entre almas gêmeas podem ser desastrosos para os relacionamentos da vida real e casamentos.

Além disso, uma vez que nós possuímos a tendência a sermos duros consigo mesmos sobre os defeitos que não gostamos, é inevitável que haverá também a tendência a sermos brutalmente duros com nossos "espelhos" no momento que percebermos tais defeitos neles. Talvez seja isso que Gilbert quis dizer quando falou sobre dor e derrubar muros devido à conexão com almas gêmeas. Podemos aprender MUITO com a dor e talvez esse seria o ponto, a real finalidade de tal relacionamento. Um bom parceiro muitas vezes não compartilha todas as nossas inseguranças - as acha até encantadoras. Eles nos perdoam por nossas falhas e nossos pecados e nos incentivam a evoluir.

Pegando a filosofia da Gilbert emprestada e adicionando meu toque pessoal: Almas gêmeas são espelhos e estão entre as pessoas mais importantes que você vai conhecer na sua vida, mas talvez não sejam boas pessoas para viver juntos ou casar. No entanto, você não precisa fechá-los para fora de sua vida. Eles podem ser bons amigos que lhe ajudam a lembrar quem você é e aonde pode melhorar.

Talvez mais importante (e gratificante) do que passar a vida com o seu "espelho" seja passar a vida com alguém que presta atenção em você, que gosta de você de forma sincera, que aprende com você e te ensina, além de trazer à tona o seu melhor (e claro, te deixa com vontade de retornar tais favores com o maior prazer). O personagem de Jack Nicholson trata disso no filme "Melhor É Impossível" quando ele diz à personagem de Helen Hunt: " Você me faz querer ser um homem melhor." Um grande parceiro da vida real inspira você a tentar ser a melhor versão de si mesmo (e te apoia mesmo se você falha às vezes).

Almas gêmeas muitas vezes se encaixam com o amor não correspondido (ou que já não é mais requisitado). Sem descurar o glamour e o valor das almas gêmeas, é frustrante e doloroso concentrar o seu amor em alguém que não possui a vontade de um relacionamento real com você ou mesmo quando você não possua tal intenção.

Você pode amar um parceiro que te inspira ao invés de um espelho de si mesmo - e vice-versa - não tanto quanto, mas MAIS do que sua alma gêmea.

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Chega de Intolerância e Ódio.

Estamos na reta final do ano 2014. Sobrevivemos à copa e às eleições. Vimos nascer um embate político "individualista democrático" nunca antes visto na história desse país. Apesar da nossa nova democracia ter apenas 28 anos (26 com a Constituição), era de se esperar que nós brasileiros já tivéssemos maturidade suficiente para prezar pelo seu bom desenvolvimento. No entanto, é só abrir qualquer rede social ou ouvir a conversa política dos outros num bar ou café para se deparar com assuntos que envolvem golpe, impeachment e movimentos separatistas, num claro discurso que incentiva a cegueira coletiva que deslegitima o resultado adverso. Durante esse segundo turno, ambos os lados se comportaram como torcedores de futebol, não bastando a mera expressão de voto - mas sim eliminar o concorrente - tudo isso pautado na arrogância, intransigência e incapacidade do eleitorado de julgar as candidaturas pelas suas propostas e projetos, levando em consideração apenas o partido ou sua imagem.



Aparentemente a expansão democrática incomodou bem alguns grupos, tendo em vista a enxurrada de manifestações de ódio pelas ruas e redes sociais. Até parece que um país, com proporções territoriais continentais como o nosso, é pequeno demais para todos - uns acreditam que merecem morar no suposto paraíso que é Miami, enquanto outros defendem que deveriam mandar uma penca de nordestinos para Cuba. Se faz conveniente lembrar da definição de Jacques Ranciére para a democracia: "(...) longe de ser a forma de vida dos indivíduos empenhados em sua felicidade privada, é o processo de luta justamente pela ampliação dessa esfera, para a pública."

Portanto, se nos pautarmos nos ensinamentos do filósofo francês, nada justifica a falta de respeito e cidadania com os demais da forma como temos visto. Consciência política independe de renda, etnia e estado de origem. Há pessoas que creem deter o monopólio da razão, ampliando ainda mais o apartheid socioeconômico que ainda vivemos. O que vivenciamos não é apenas um embate eleitoral, entre amigos, compatriotas, ideologias e classes. É uma desunião completa gerada pela ausência de uma identidade coletiva, como bem salientou Vladimir Safatle.

Analisemos argumentos contrários ao celeuma existente sobre a participação social na escolha de um governo: A participação popular não se opõe à democracia, sendo sua consequência direta. Participação popular não se opõe à tomada consequente e bem informada de decisões, é o seu requisito. Aparentemente o parágrafo único do primeiro artigo da nossa Constituição Federal de 1988 ("Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.") é tão somente uma declaração solene, uma vez que o discurso atual nos remete ao domínio histórico das decisões tomadas numa política oligárquica por grupos minoritários, mas extremamente influentes, que procuram deter, de forma elusiva, o poder soberano. Essa é a única razão pela qual consigo enxergar o porquê haver tanto ódio rechaçado em cima de alguns eleitores de 2014.

Observamos que alguns não se libertaram do egoísmo social preconceituoso, ressentido e revestido com essa roupagem histórica. Xingar o país, clamar por impeachment, separação armada e boicote ao governo recém eleito democraticamente é apenas a ratificação deste individualismo nocivo. A eleição da Dilma não é o ideal, como muitos sabem que eu defendo. No entanto, é preciso reconhecer que o status quo que perdurou no Brasil em mais de 500 anos de história mudou com o governo petista - sendo que tal mudança foi benéfica para a maioria, apesar do apertado resultado do último Domingo. Talvez o maior argumento dos "miamistas" seja o crescimento econômico, sendo que de economia mal entendem, e se entendem, defendem apenas sua riqueza com o logro do pretenso interesse de muitos. Do que adianta defender crescimento econômico com concentração de renda, especialidade condizente com os padrões de desigualdade e acumulação?

Há aqueles que praticam o absurdo de comparar o atual governo à ditadura. Entre 1964 e 1985, o Brasil vivenciou o período militar que impôs terrorismos de Estado, censura, arbítrio e crimes contra os direitos humanos mais básicos. Em tal período a economia nacional crescia às custas de pesado endividamento externo e submissão à Casa Branca. Delfim Neto proferiu a famosa frase "crescer o bolo para depois repartir", o que incita a reflexão: a que custo buscamos o desenvolvimento econômico? André Singer, professor da USP, em seu livro "Os Sentidos do Lulismo" afirma que apenas em 2016 atingiremos os níveis de distribuição de renda próximos àqueles que vigoravam em 1964, o que efetivamente significa que em 50 anos crescemos, concentramos muita renda e excluímos muito os pobres da política e da economia. As pessoas não podiam expressar sua opinião nem esperar por mudanças, com centenas de casos de assassinatos, desaparecimentos e torturas para que nós pudéssemos escolher o futuro da nação nesse último domingo, pela sétima vez. Me espanta que pessoas se achem no direito de estar de "luto" pelo simples fato da maioria do país ter chegado a um consenso constitucional e democraticamente garantido e legitimado que não vai ao encontro de seus interesses mesquinhos.

Passando o foco para os ditos "separatistas", os quais afirmam que o bolsa-família é compra de votos: é de conhecimento geral que programas sociais são importantes e necessários, como a própria ONU afirmou. Não acho que a solução seja acabar com eles, mas sim definir uma estratégia para que eles se tornem desnecessários ao longo dos anos, com uma política educacionista que diminua a níveis aceitáveis a monstruosa desigualdade existente em nosso país. Desconstruo outro argumento comum dos "separatistas": "Nordestinos votam na Dilma e depois vêm morar em São Paulo". Basta lembrar das aulas de geografia e geopolítica do colegial - o fluxo migratório referido ocorreu entre as décadas de 60 a 90, sendo que o próprio IBGE realizou pesquisa apontando a redução de emigrações nordestinas dos últimos anos justamente pelos consideráveis investimentos do governo federal na região, que passou a empregar a mão-de-obra ao invés de apenas fornecê-la.

Outro ponto interessante é a frase: "O gigante acordou e voltou a dormir". As manifestações de Junho de 2013 surgiram impulsionadas pela baixa qualidade dos transportes públicos e seu contínuo aumento de preço, abrindo espaço para demandas relacionadas à educação, segurança e saúde. Ficou claro que a população estava de fato insatisfeita com o ritmo de melhorias nos sistemas públicos, mas não podemos ser ingênuos e acreditar que tudo é culpa do governo federal, uma vez que este atua de maneira conjunta com os governos estaduais e municipais, não sendo, portanto, o único responsável por todas as mazelas do nosso cotidiano. Importante frisar que tais protestos nunca foram a favor de um governo conservador (como seria um eventual governo Aécio), mas houve clamor por maior combate à corrupção, justiça fiscal, descontentamento midiático e melhor gestão para aplicação do dinheiro público. Nós queremos mudanças, mas não aceitamos retrocesso e o que algumas pessoas falham em enxergar é que a equipe de governo tucana era constituída basicamente pelas mesmas figuras que administraram o Brasil há 12 anos. Há de se lembrar também da reeleição do Alckmin em primeiro turno no estado de São Paulo o que, na minha opinião, reflete a extrema tendência conservadora da população paulistana, que por si só dificulta a mudança.

Nossos embates, em geral, têm sido movidos pelo ódio, mais do que pelo bom senso ou pela paixão cívica que favorece a melhor tomada de decisões. Vi e vejo debates que raramente apresentam um viés democrático, antes, durante e após essas eleições. Quando uma pessoa expõe sua opinião, o outro contesta de forma a mitigar por completo o espaço para uma reflexão autêntica, se movendo pela indignação e desejando a opressão daquele que o indigna.

Aparentemente a sociedade brasileira se tornou maniqueísta em pleno século XXI. Escolher um lado e argumentar sem trazer nada de útil e construtivo só faz com que elevemos todos os problema de uma complexa sociedade como a brasileira a uma figura desmaterializada e distante. Nossos problemas são concretos - nossos discursos, abstratos. Na política não há melhor partido, melhor ideologia ou melhor governo que satisfaça a todos, em todos os âmbitos. Se nunca houve "nós" contra "eles", agora há menos ainda, num crescente problema de falta de patriotismo e senso de camaradagem em nossa sociedade.

Por fim, espero que sejamos coerentes com nossos pensamentos e ideais, mas que aprendamos a respeitar os daqueles que, por inúmeros motivos, nos é diferente. Que o embate continue, a luta por espaço e diversificação cultural e etnológica se propague, e que, justamente por isso, não retrocedamos socialmente. Que cobremos do governo, como cidadãos que somos, independente dos votos do mês de Outubro - isso é democracia. Não nos permitamos ser moralmente indigentes e frutos da intolerância. Lutemos para atingir a finalidade máxima de todos nós como brasileiros: melhorar o país para todos.


terça-feira, 7 de outubro de 2014

Eu escrevi e não contei.



poetas são apenas pessoas que
não são boas em se apegar às coisas
e a poesia é
a arte do desapego

é como uma rajada de ar fresco
prenúncio da catarse da alma
que já pede arrego

emoções que fluem através da caneta
dor escondida, escrita em tinta preta
curando o que há muito tempo fora mal enterrado

ouvi dizer que quando você conta os seus segredos para uma árvore
você vai encontrá-los mais tarde,
entre as páginas do seu livro favorito

mas eu escrevi teu nome na areia
sendo que a maré não conseguiu apaga-lo.
O oceano, desde então, se encontra apaixonado.

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Meet the Trio

Muitos de vocês nunca ouviram falar do trio formado atualmente por Matt Skiba (vocal e guitarra), Dan Andriano (vocal e baixo) e Derek Grant (bateria), afinal, o punk rock / rock alternativo nunca fez muito sucesso em terras tupiniquins, onde reinam o funk ostentação e o sertanejo universitário.

A banda de Illinois possui um estilo musical único. Não é um punk pesado como Pennywise, mas não é leve como Blink-182. O ponto forte das músicas são as letras, as quais tratam dos meus temas favoritos: a mente humana e suas loucuras, violência, tristeza (e suas razões) mas principalmente o amor.

Matt e Dan são dois poetas modernos e absurdamente geniais. Ambos possuem uma sensibilidade inacreditável, escrevem de forma sombria e excitante sobre como a vida pode ser, além de nos dizer com maestria quão incrível, mágica e dolorosa é a droga chamada amor.

Desde 2005 venho apreciando, cantando e refletindo sobre suas músicas, com uma sensação de que aprendo cada vez que leio, ouço e sinto suas músicas ao dirigir, tomar banho, ou pensar na vida deitado na minha cama. Chega de bla bla bla, aqui vão alguns exemplos:

01 - Private Eye



Essa música é sobre ciúmes e suspeitas que acabam com um relacionamento. Um cara é obcecado em resolver "o caso" de sua amada (por isso private eye - detetive particular) e, não descobrindo nada, acaba irritando a pessoa que ele ama. Em seguida ele passa o ano novo sozinho e decide que estava errado em ser tão desconfiado - "i'll be dead wrong and you'll be just fine". No entanto, num plot twist, a música dá a entender que ele estava certo e que a pessoa foi infiel, daí o "worth it to stand in line" e "you WON'T have to stop saying I love cops for anyone but me".

02 - This Could be Love

Uma música bem macabra, no melhor estilo Alkaline Trio. Trata da obsessão, amargura e dos sentimentos que aparecem ao final de um relacionamento importante. A música fala sobre uma espécie de relação de amor e ódio selvagem e louca entre duas pessoas que chega ao fim mas sem um ponto final. "You took me hostage" - segura ele no relacionamento - "and made your demands" - fazendo um monte de exigências as quais ele não poderia atender (talvez ser uma pessoa melhor, fazer as coisas que ela queria, etc) e, em seguida, quando ela notou que ele não poderia atender suas expectativas - "you cut off my fingers, one by one" - ela cortou lenta e dolorosamente o cara da vida dela. Tamo junto Skiba.

03 - Burn



Essa música genial trata de Deus, pecado, tentação e principalmente o medo das pessoas em viver, devido ao que é imposto tanto pelas religiões como pelos costumes da sociedade como certo e errado. A filosofia da música é: todos nós estamos destinados a cometer erros se realmente queremos adquirir sabedoria e aprender algo nessa vida, sendo que o problema é o MEDO das consequências, do castigo. Não deixe que o medo te impeça de viver. "Everyone learns faster on fire" - todo mundo aprende mais rápido em chamas.

04 - I Found Away



No começo dessa música é recitada uma passagem do poema épico "O Inferno de Dante". Dante se encontra na selva tenebrosa do erro e, eventualmente, se aventura pelo inferno e sobrevive. A música trata do amadurecimento que um relacionamento nos traz e da superação ao sairmos do inferno que é deixar de conviver com a pessoa que amávamos - "Over the fear and through the flames, i'm diving in".

05 - Lost and Rendered


A música é sobre o desespero de uma pessoa, sobre a depressão. No mundo de hoje é fácil não olharmos pros problemas dos outros e nos preocuparmos exclusivamente com os nossos. Às vezes as pessoas se sentem abandonadas, sem o mínimo de atenção dos outros e acabam até perdendo a vontade de viver. O relógio da música é o tempo que resta da sua vontade de viver. De longe minha música predileta da vida.

06 - This Addiction



A música compara uma paixão com o vício por heroína. A vontade de querer ficar com a pessoa toda hora, o delírio que é estar junto a ela. A letra dá a entender que os relacionamentos anteriores da personagem foram apenas drogas comuns que ele utilizava apenas para aguentar o dia, mas que agora ele está poupando o organismo para A droga, sendo que ele não tem a menor intenção de se reabilitar dela.

07 - I Wanna Be A Warhol



Uma música que exala desejo, uma obsessão romântica e sexual com uma ex-namorada que só o tem em suas memórias, mas ele não consegue, nem quer, esquecê-la. O título da música faz referência ao artista pop americano Andy Warhol (1931-1987), cuja imagem era estampada em latas de sopa e seu talento para a auto-publicidade fez dele um nome comum no final dos anos 60. Foi Warhol quem popularizou a frase "15 minutos de fama".

08 - Crawl



Crawl faz uma analogia entre o alcoolismo e um relacionamento ruim. Expõe aquela sensação de "saco cheio" de uma pessoa e as brigas, já insuportáveis, em que não consegue-se prestar o mínimo de atenção por conta da exaustão. "Never had a drink that I didn't like, Got a taste of you, threw up all night".

09 - Over and Out


Essa aqui teve direito até a entrevista com o Skiba explicando a letra. FODA:



Eu poderia continuar postando e filosofando sobre as outras 119 músicas que tenho da banda, mas acho que já consegui passar minha mensagem. Cada música tem uma letra especial, são extremamente bem pensadas e únicas, se referindo a alguma experiência ou reflexão dos caras. É exatamente essa qualidade da banda que me faz gostar tanto de ouvi-la. All hail the trio!

domingo, 7 de setembro de 2014

Ela é o Oceano



Ela é o oceano tumultuado,
o violento e rolante mar
que simula ser delicado
até que a fúria vem a se libertar.

tão vasto e tão interminável
sem limites, invalorável
uma vez o aceitei
e enquanto vagava pelas ondas, me apeguei.

sem o oceano agitado
sem o mar desordenado
sem a onda que me atira
e que nunca me libera.

a árida e seca terra cederia
sob meus pés em chamas
lembrando-me do mar que eu perdia
aquele, que secou às pressas.

mas o sal me deixa a definhar
nenhuma doçura consegue me saciar
somente o tempo dirá
se o amor essa trincheira preencherá.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Anjo em Exílio



O que se pode dizer de mim?
Imortal e cheio de amor,
nenhuma morte.
Para conhecer a morte,
eu sinto que deveria viver

Que nome diz respeito
ao vazio que suporta a existência
de uma luz sem sombra?
Pois me definiria.
Tenho medo de nada,
anseio por algo,
diminuindo,
como a compaixão das pessoas,
ser um povo assim como um indivíduo

Como não amar?
Eu sou o executor
mas eu não conheço o mal,
muito menos o amor.
Eu voo este céu
num piscar de olhos mel
que rasgam com a mera sugestão,
meu desejo, tentação.

Eu preferia estar no exílio,
cheio de amor
em espumas sinistras dos mortais,
lançadas por figuras sombrias
para que eu possa emergir do sofrimento
e devastar tudo o que
eu estava programado para ser.
Me tornar uma luz brilhante...
e livre.

terça-feira, 26 de agosto de 2014

As pessoas interessantes andam por aí, se escondendo.

Esses dias um amigo me indicou um texto que explora a falta de emoção nos relacionamentos e o fato de que conhecer novas pessoas não está sendo tão incrível como poderia ser. Me identifiquei bastante com o autor, uma vez que já me fiz essa pergunta diversas vezes: por onde andam as pessoas interessantes?


"Be yourself; everyone else is already taken." - Oscar Wilde 

Como o autor, vivi o limbo sentimental causado pelo amadurecimento, esperando que alguém aparecesse para de lá me tirar, desejando sentir a inspiração necessária que gerasse aquela vontade de se conectar com alguém. Minha conclusão é de que realmente anda difícil encontrar conexão emocional nos dias de hoje, tanto pelas razões expostas no texto (como os aplicativos tinderianos e a crescente efemeridade dos relacionamentos) como por outras que pretendo aqui expor.

Em um mundo de mais de 7 bilhões de pessoas é de se esperar que ficaríamos espantados com a grande variedade de gostos, personalidades e loucuras. Mas, infelizmente, a maioria das pessoas tende a se tornar semelhante aos outros, ignorando aquilo que as torna únicas, vítimas do influente fenômeno da padronização do século XXI - época em que ser feliz se traduz em ser popular, ter sucesso profissional, um carro novo e uma aparência impecavelmente copiada de outros.

A maioria tem os mesmos desejos, esperanças e sonhos. Queremos um bom emprego ou negócio para ganhar dinheiro e prestígio, para então passar os finais de semana colecionando momentos em forma de fotografias/selfies, com o questionável intuito de angariar a maior quantidade possível de likes nas redes sociais, deixando de viver tais momentos com a intensidade a que fazem jus e, ao mesmo tempo, fazendo uma propaganda enganosa de nós para os outros e para nós mesmos.

Sendo assim, percebo que em grande escala somos únicos, como aqueles vídeos e textos inspiradores insistem em dizer. Cada pessoa é de fato diferente. No entanto, numa escala menor, somos o mesmo do mesmo - uma sociedade de abelhas onde o papel de cada um é previamente definido, onde cumprir expectativas alheias é sinônimo de sucesso, sendo que a verdadeira personalidade e as prioridades pessoais ficam engavetadas e trancadas dentro de nós, a ponto de sentirmos vergonha de abrir tal compartimento.

Observo pessoas que precisam ser políticas, no sentido bajulador da palavra, para sobreviverem. Dissimulando e interpretando uma personagem para conseguirem agradar, cometendo um atentado contra a própria personalidade. Tais pessoas até conseguem de certa forma satisfazer aqueles ao seu redor, negociando a sua identidade, pagando o preço todos os dias ao se olhar no espelho e saber que não são quem elas são. Como uma doença contagiosa, tal atitude se espalha pela violenta transmissora que é a sociedade moderna e seus meios de comunicação de massa.

Em  um mundo de mais de 7 bilhões de pessoas penso que mais delas poderiam prender a nossa atenção, nos surpreender. Deixo minha gaveta aberta e, quando eu conheço uma pessoa (tanto amigos como paixões) que me pega de surpresa, alguém que é verdadeiramente único e autêntico, eu procuro mantê-la em minha vida. Acredito que as pessoas interessantes andam ao nosso lado, afinal, todos tem o potencial dentro de si, faltando em alguns apenas a vontade de pegar a chave daquela gaveta e realizar um simples movimento - o de viver e não o de existir. Nossa identidade não tem preço e nunca deveria ser negociada, apenas aperfeiçoada pela sabedoria.

Finalizo com a seguinte cena de um dos meus filmes preferidos, a qual ilustra bem o que eu quero dizer:



segunda-feira, 11 de agosto de 2014

tudo o que sou




...uma vaga memória
tecida no som
do farfalhar das folhas

uma sensação de vazio
espalhada pelo teu coração
pelo mais suave dos ventos

um suspiro melancólico
sobre o brilho fugaz
de uma estrela cadente

apenas mais um ar exalado
substituído pelo próximo
um sussurro, capturado por teias de aranha

as sementes de um dente de leão
espalhadas por toda a vastidão
da saudade dolorosa

tudo o que sou
uma história
escrita nas areias de tempos perdidos

palavra por palavra solitária
suavemente levadas
pelas implacáveis ondas
do esquecimento...

Não se Contente com Estrelas




Ame como o Sol
ama a Terra
desde quando se conhecem
eles dançam todos os dias

O Sol faz a Terra
olhar para o lado mais brilhante
a Terra dá ao Sol
razão para acordar

Ame como a Terra
ama o Sol
porque a Terra não se distrai
pelas estrelas nem pela lua.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Você



Eu nem imagino qual seja o plano de Deus para mim, mas após ter
deitado ao seu lado e
secado as lágrimas de seus olhos castanhos
eu acho que talvez eu tenha sido feito para ser seu.

não seu tudo,
ou seu amante, apenas
seu.

e talvez essas palavras são escritas ingenuamente mas
eu experimentei química
eu amei uma guria que me dilacerou por dentro
mas não antes que eu
tivesse corrompido tudo que ela sentia (amei cada segundo dessa história).

eu amei a ideia de uma pessoa
pequenos detalhes de uma pessoa e, então
eu amei você.

você possui o poder de me destruir com seus olhos castanhos
que, como a neve, são lindos e frios

você me apoiou com mãos tão cicatrizadas quanto as minhas,
me confortou após tempestades destruírem
a pouca força que me restava.

nós trocamos corações partidos, preenchemos o vazio com
histórias e risadas
momentos silenciosos e toques prolongados.

eu sei que isso será fácil, pois ambos somos mestres
mestres na arte de machucar.
mas o amor não precisa sempre ser dor
pois mãos cicatrizadas
também servem para amar.

nós não somos perfeitos
mas eu ficaria feliz em utilizar todo tempo que me resta
para esculpir
uma nova definição da palavra
com você.

eu acho que eu tenha sido feito para ser seu.

e se colocarmos nossas retalhadas almas juntas
finalmente entenderemos o que é
ser completo.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Essa Terra é de Quem?

Os conflitos na Terra Santa começaram a se intensificar nas últimas semanas. DE NOVO.
Israel bombardeia palestinos e grupos insurgentes muçulmanos soltam foguetes ultrapassados e facilmente abatidos pelo moderno poderio militar israelense. No final das contas quem mais sofre é a população civil dos dois lados, principalmente a palestina.

Mas por que tudo isso? Tanto ódio e violência há incontáveis gerações? Talvez a maior rivalidade de toda a história humana, maior ainda que a existente entre ingleses e franceses (desde a época de Guilherme, o Conquistador em 1075 e da Guerra dos Cem anos que começou em 1337).

A Palestina (ou Israel) foi conquistada e reconquistada diversas vezes ao longo da história humana por diversos povos diferentes (ao contrário do que muitos acreditam, não foi só contestada por judeus, católicos e muçulmanos). Foi povoada logo no surgimento da humanidade organizada (cerca de 3000 A.C.), já que se encontrava perto dos berços da civilização, quais sejam a África e a Mesopotâmia.

Há grande controvérsia sobre a atual divisão de terras no local, tendo em vista que após ter sofrido o pior crime da história da humanidade (o holocausto), o povo Judeu, com a ajuda do Reino Unido e dos Estados Unidos, forjou um Estado artificial na "terra prometida", o qual já era totalmente ocupado por outros povos, principalmente palestinos muçulmanos (após quatro séculos sob o domínio do Império Turco-Otomano).

Ao invés de deixar aqui minha opinião pessoal, deixo a vocês isso: me deparei com um vídeo que conta de forma genial a história dos povos que passaram por esse lugar, aonde incontáveis pais, filhos e famílias foram e são mortos. Tomem suas próprias conclusões. Abaixo, farei uma compilação histórica dessa terra, com todos os povos que já a dominaram.

 

História completa de Israel/Palestina:
Período Proto-Caanita 3000-1550 A.C.
Reinado Egípcio 1550-1175 A.C.
Período dos Reinos Independentes (Israelenses, Filisteus e Caanitas) 1175-740 A.C.
Império Assírio 740-627 A.C.
Império Babilônico 627-539 A.C.
Império Persa (Aquêmenida) 539-330 A.C.
Período Helenístico ou Grego (Alexandre, o Grande e posteriormente os seus generais sucessores) 330-63 A.C.
Império Romano 63 A.C. - 330 D.C.
Império Bizantino 330-638 D.C.
Período dos Califados Árabes (Rashidun, Omíada e Abássida) 638-969 D.C.
Califado Fatímida 969-1099 D.C.
Reino de Jerusalém (formado pela primeira cruzada católica) 1099-1187 D.C.
Período do Império Aiúbida (após Saladino reconquistar Jerusalém) e dos Mamelucos 1187-1516 D.C.
Império Otomano 1516-1917 D.C.
Mandato Britânico da Palestina 1922-1948 D.C.
Criação da Israel moderna / Conflitos com os palestinos 1948-???? D.C.

terça-feira, 1 de julho de 2014

Sabedoria

Sabedoria (Sophia) é a verdade bem merecida.


Século XXI: estamos nadando em um mar de conhecimento. Todos os dias dizem-nos o que nós queremos e o que precisamos fazer para conseguir. Entretanto, sem contexto ou conexão, o conhecimento não significa absolutamente NADA. O conhecimento não é equivalente à sabedoria. A sabedoria não pode ser dita para você. Ela não pode ser encontrada aqui na internet. Ela só pode ser adquirida através de uma busca pessoal e interna.

Aristóteles, Platão, Homero e tantos outros filósofos da história têm suas próprias definições de sabedoria. Para mim a sabedoria é a síntese de conhecimentos e experiências em introspecções que aprofundam nossa compreensão do significado da vida.

Tanto os conhecimentos como as experiências são necessários, uma vez que teorias sem experiências podem se revelar falsas e experiências sem teorias podem não ser universais.

Uma vez que você começa a adquirir sabedoria (um processo sem fim, diga-se de passagem), duas coisas extraordinárias podem ocorrer: primeiro você começa a entender o seu propósito e como alcançá-lo, e, em segundo lugar, você começa a ligar a sua sabedoria com a de outras pessoas através do espaço e do tempo (finalmente descobri o motivo de eu sempre amar estudar história). Padrões emergem como degraus de escada e, conforme você vai subindo, você vai experimentando a unicidade de todas as coisas:

Entendimento - O primeiro passo para o sucesso em qualquer coisa é entender a si mesmo, os outros, o mundo e como tudo se encaixa. Eu diria que é impossível entender tudo que o grande e misterioso universo nos oferece e, na minha opinião, é o processo mais árduo na busca pela sabedoria;

Ação - Após (e somente após) entender alguma coisa do mundo e do seu lugar nele, você pode fazer qualquer coisa que você colocar na sua mente, contanto que você faça algo para atingir seus objetivos. O sucesso não cai no colo de ninguém - não sem um preço.

Unicidade - Conforme você for adquirindo sabedoria, você vai começar a fazer conexões entre o que é verdade, o amor, a beleza e vai começar a apreciar a riqueza e diversidade de ideias de pensadores através do tempo e do espaço.

Humildade - Por fim, devemos ter em mente que nunca saberemos de tudo. Seremos eternos aprendizes da vida. Sábio foi o senhor que disse: "Só sei que nada sei."

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Preto




Nós tocamos as paredes de uma das ruas da cidade, e
não explicamos
infelizmente mostramos nossa mania
de nunca perguntar por que

abatida
foi enviada do céu, e
para a igreja, sem nenhuma intenção de se arrepender
de joelhos, só para chorar

até você viajar para aquele lugar ao qual não se pode voltar
aonde a última dor se foi e tudo o que resta é preto

noites brilhantes deixam de vir para mim, e
algum dia
elas vão punir meus atos, e elas vão encontrar
todos os crimes
mas então, elas perguntam quando irão vê-los
em seguida elas vão
pedir para sentir os fantasmas, as paredes, os sonhos
ah, eu tenho os meus

finalmente quem viria, veio
e nunca olharam para trás
com estrelas ofuscantes em seus olhos, mas tudo o que viram foi preto

enganei-as, na esperança de parecer
o cavaleiro que triunfa sobre o mal,
mas o produto da cobiça, e
agora não uso uma máscara, portando seja honesta comigo
elas não podem se dar ao luxo de ignorar que sou uma doença

práticos, uma vez que tínhamos de ser, e
quando ficaram mais velhas, vieram de volta pra mim
e elas tentaram, ah elas tentaram
e quando você seguir adiante e acabar deitada de costas
olhando para estrela nenhuma no céu, aquelas nuvens brancas se tornam
preto.

sábado, 31 de maio de 2014

O que o Amor não é

Ao longo dos anos formamos um monte de ideias sobre o que é o amor, muitas vezes com base em esperanças e padrões ideais e irrealistas, já que não é uma coisa que pode nos ser ensinada como matemática ou história. Aprendemos apenas o que imaginamos que deva ser, ao observar nossas famílias, amigos e histórias de vida que chegam ao nosso conhecimento. Quando menos imaginamos, a realidade pode vir a bater em nossa porta e, sem a menor delicadeza, gritar na nossa cara: FRUSTRAÇÃO.

Muitas vezes ela o faz. O amor pode ser bagunçado, confuso e imperfeito - assim como nós e a própria vida.

O que histórias românticas de cinema e aquela pessoa com a "vida perfeita" nem sempre nos dizem é o que o amor NÃO é. Às vezes é preciso despir ideais, a fim de compreender e apreciar o que é real. Pé no chão minha gente, mesmo que tua cabeça esteja na lua.


O amor não é sempre paciente. Às vezes ficamos irritados, sem paciência, ou frustrados com as pessoas que mais amamos. Devemos reconhecer a imperfeição de todos os seres humanos, respirar profundamente, para só então fazer o nosso melhor ao tratá-las com compaixão e compreensão.

O amor nem sempre é bondoso. Às vezes dizemos e/ou fazemos coisas às pessoas que mais amamos que nos fazem sentir o mais amargo arrependimento. "Água mole em pedra dura tanto bate até que fura" - o mesmo ocorre quando você ofende quem te ama de forma recorrente. A solução é simples (e por vezes difícil): deixar o orgulho de lado, assumir a responsabilidade e, em seguida, fazer o melhor para sermos carinhosos e atenciosos em nossas interações futuras.

O amor nem sempre é altruísta. Às vezes deixamos de considerar as necessidades das pessoas que mais amamos. Não quer acompanhá-la naquela festa com as amigas, mesmo que isso seja mega importante para ela? Insiste em passar o carnaval na praia ao invés de visitar a avó dela no interior? Quem nunca foi egoísta que atire a primeira pedra. Há de se encontrar um modo de colocar o sentimento dos dois em uma balança, para então definir o equilíbrio entre dar e receber. Sem equilíbrio qualquer amor está fadado ao fracasso.

O amor nem sempre é confiança. Às vezes a gente duvida das pessoas que mais amamos, ou pior, damos razões para elas duvidarem de nós. Devemos lançar um olhar mais atento sobre nossas suspeitas e enxergar o melhor ao invés de assumir o pior. Havendo sentimentos por terceiros, devemos nos questionar imediata e incansavelmente até chegarmos a uma resposta definitiva e honesta, evitando assim causar maiores sofrimentos aos envolvidos.

O amor às vezes inveja, às vezes se irrita e às vezes mantém um registro de todos os erros. O amor faz tudo isso porque às vezes NÓS fazemos tudo isso.

Reconhecer isso não significa tolerar isso; significa reconhecer que o amor não nos cura da nossa tendência natural e humana de errar. Meus erros foram meus maiores professores e, com certeza, caso eles não tivessem existido, você não estaria lendo isso aqui.

O amor não falha porque erramos de vez em quando. Ele falha quando deixamos de aceitar que todos nós erramos. É mais fácil e cômodo pensar que algo está errado ao invés de torná-lo certo.

O amor não é, portanto, sinônimo de um ideal perfeito e de uma vida sem conflitos. Amor é querer trabalhar para superá-los juntos. É, por fim, um sentimento humano, sujeito a imperfeições, o qual não funciona por inércia, mas sim devido à força de vontade de cada um. É inexplicável em sua origem, e possui seu destino inteiramente em nossas mãos.

terça-feira, 27 de maio de 2014

Definido

Significado de Definir: v.t.Enunciar os atributos, as características específicas de uma coisa (objeto, ideia, ser) de tal modo que ela não se confunda com outra. Dizer exatamente, explicar a significação de.

Hoje ela me definiu: "O homem menino que sorri uma alegria maior que os lábios carrega uma angústia de uma vez e meia a profundidade dos olhos."

Quase nunca a vejo. Como pode tanto saber? Definitivamente não sei.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

O Artista


cuidado quando você se apaixonar
por um artista
seja um pintor, cantor ou poeta
principalmente se de nome renascentista

pois o artista vai
pintar
com traços e tons
dando forma aos dons

cantar sobre você
com letras comoventes
os sentimentos subjacentes

escrever sobre você
com as mais simples palavras
de segredos detentoras

cuidado com o artista
um movimento errado
e você se torna a mais nova obra de arte em exibição
o amor, rejeição


domingo, 4 de maio de 2014

Domingo

Sete e meia da manhã. Seus olhos já não se fechavam mais - não sem grande esforço. Revirar na cama já tinha se tornado repetitivo, irritante. Tinha muito espaço nela. Decidiu finalmente se levantar. Era um Domingo ensolarado perfeito - não quente demais, com aquele sol gostoso.

Lembrou da noite anterior. Tinha chegado em casa lá pelas cinco da manhã. Conheceu duas gurias. Interessantes até, vez que naqueles momentos elas o fizeram esquecer. Mas só naqueles, não conseguiram ir além daqueles. Não tinham pele de neve, olhos grandes ou cabelos negros como o universo sem estrelas.


Saiu do quarto e foi para a cozinha. Estava sozinho em casa há mais ou menos um mês - a única coisa que restava na cozinha era um chocottone velho. Era melhor continuar sem comer nada, já que não sentia fome e a quase embolorada iguaria de natal não o apetecia.

Sabia que iria se encontrar com ela no almoço. Ela insistira em almoçar com ele num shopping, mesmo naquela bizarra e amarga situação. Os dois haviam terminado o namoro há cerca de um mês e meio antes desse Domingo. Em uma daquelas duras e doloridas conversas, completamente desnecessárias diga-se se passagem, do "pós", ele comentara que precisaria comprar roupas. Ela se mostrou interessada em acompanhá-lo e, inclusive, em se certificar de que ele se alimentaria, pelo menos naquele Domingo. Ela sabia que, quando sozinho, ele não se lembrava de comer. Ele não soube negar. Esperança talvez?

Chegou na casa dela, deu o costumeiro "toque" de celular, dessa vez com frio na barriga equivalente a um primeiro encontro e, com pontualidade britânica, os dois se dirigiram ao shopping. Falaram o necessário no trajeto, apenas para quebrar o mórbido silêncio. O triste necessário: sem calor, sem sentido, sem amor. Por que mesmo tal troca de palavras é conhecida como (des)necessário?

Passaram em umas cinco lojas. Ele experimentava, ela opinava e ele comprava. Comentava como cada uma das roupas ficava nele. Andavam juntos pelos corredores, sem dar as mãos um ao outro. Angústia? Vazio? Falta de Ar? Tudo.

Almoçaram e tocaram no assunto. Erro! Grande erro. Não havia consenso, maturidade nem força de vontade. O passado ainda recente não era favorável, nublando julgamentos. Dor para ambos no momento em que o frio da barriga se transforma em choro segurado.

Não havia porque prolongar aquilo. O Domingo continuava lindo para ele, coisa rara, tendo em vista que nunca gostou do sol. Sempre se sentiu mais confortável no escuro, no frio. Levou ela para casa. A despedida sempre era a pior e a melhor parte. Longa, dolorida, incerta, sem sentido, com sentido? Tudo se resumia em saudades, arrependimento e a inevitável dor que amadurecia.

No momento que ele pensou em ligar o carro, após o portão dela ter se fechado, seu celular toca. Era outra, a ruiva, com quem ele conversava sobre tudo (inclusive sobre a amarga situação) e, ocasionalmente, trocava beijos e carícias, desde a solteirice. Ele suspeitava que a ruiva sentia algo além do mero tesão, infelizmente com a certeza de que seu coração ainda não se abriria tão cedo para outra pessoa.

A ruiva, a qual, por força de um destino irônico, morava no mesmo condomínio dela, mencionou a beleza do dia e o convidou para passar a tarde em sua casa. Ele não pensou, aceitou.

Deu uma enrolada para parecer que não estava há menos de dois quilômetros de distância. Ao chegar lá, a guria ruiva foi recebê-lo no portão da casa e percebeu as compras no banco de trás. Descobriu que eram roupas novas dele e pediu para ver como ficavam. Ele nunca gostou nem teve a paciência de experimentar nada, mas no mesmo dia experimentou as mesmas roupas para duas pessoas diferentes, sendo que uma delas era ela. Queria ter experimentado só para ela. A ruiva comentava como cada uma das roupas ficava nele.

Após tal experiência, assistiram a um programa de televisão bobo, o qual ele não prestou muita atenção, e logo depois fizeram amor. Ou seria sexo? Sexo. Se entreolharam: conseguiu enxergar no fundo dos olhos da ruiva algo esperançoso e bonito, que paradoxalmente o deixava triste - não vinha dos grandes e profundos olhos castanhos escuros, olhos que outrora o faziam se sentir completo.

Após comer uma mousse de maracujá que a ruiva fizera, mas não sem pensar em um certo e específico muffin de blueberry, ele disse que precisava ir para casa resolver problemas de trabalho (inexistentes) para o outro dia. Preocupada e bela, a guria ruiva fez um mimo daqueles de começo de relacionamento, em que tudo é tão mágico e ideal, e que não surtiu efeito algum nele. Já tão cedo (ou tarde) pensava nela.

O pôr do sol era dos mais bonitos de sua vida, em contraste com seus pensamentos que deixavam seu coração na mais completa agonia. Sabia que iria dormir tão mal como na última noite, com tanto espaço em sua cama. Se odiou por não ter pensado em uma desculpa no momento do convite pelo celular. Colocou o som do carro em um volume condizente com o que sentia e cantou alto naquele belo domingo a música que mais fez sentido:


I just drove under the Lincoln sign
to where New Jersey meets the New York line
and through the tunnel for the last time
With everything crumbling behind
I stood still until I felt the shakes
Of two bodies that were parting ways
I didn't want to be the one to say
I know this hurts but it's time to break
In two pieces, the fault line is not secure
A boat or bridge is needed to get back to her

I feel like I am paralyzed
when I look at the extra space left in my bed
and think about all the things we did
at least I'm feeling more alive
but I still have some old weight that I've got to shed
before I find happiness

I make mountains out of my worries
and I plant pain instead of sturdy trees
I have got to wash these old sheets
so I can fall asleep
There are times, there are times I reach for the phone
to tell you that there might still be some hope
Holding on holding on to the slack of rope
but that's the whiskey talking, so
I hope that you can find some peace in life
Can you survive without me?
'Cause I thought I'd be fine.
Now I am slurring every single line.

I feel like I am paralyzed
when I look at the extra space left in my bed
and think about all the things we did
at least I'm feeling more alive
but I still have some old weight that I've got to shed

I've got to move on before I can find happiness
This isn't fair, nobody taught me (How to let go)
"Just be here now" and you'll be set free (From sorrow?)
But at this time, I don't see clearly (How will I know?)
What is the point? What is the meaning? (How to let go?)

Now I'm struggling, I black out so I can't dream
But I still see you sneaking through my weary head
I suffer from a drought of medicine to dull self-doubt
I just wanna drown you out with southern poison
If I had a drink for every Goddamn time I think
about your pale skin dressed in pink
Then at least I could sleep
If I had a shot for every Goddamn time I thought
About your face and what I've lost
At least I'd get some sleep
Sleep, sleep, at least I'd get some sleep
Sleep, sleep, then at least I'd get some sleep.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Cinco Boas Histórias

Ainda hoje os jogos eletrônicos são vistos com certo preconceito por uma parcela da sociedade. Quem comenta que joga provavelmente já ouviu algo do tipo "isso aí é coisa de criança!". Tal afirmação talvez tenha sido verdade na gênese dos jogos, época em que os objetivos não passavam de acertar a bolinha em um lugar ou atirar loucamente em naves alienígenas aleatórias vindas do além.

Ao longo dos anos a escrita foi introduzida nos jogos. No começo tudo era bem simples - um exemplo famoso é o do encanador italiano, Mario, que vive numa terra onde comer cogumelos vermelhos te deixa gigante e onde o mundo é povoado por tartarugas sapientes cujo rei tem uma grande obsessão por loiras e sequestra sistematicamente a princesa, namorada do encanador, ano após ano.

Com a constante evolução dos gráficos, os quais cada vez mais se aproximam da realidade, técnicas interessantes foram desenvolvidas, possibilitando o surgimento de jogos que extrapolaram os limites de quão madura uma história eletrônica pode ser, superando inclusive diversos filmes e livros. Decidi mostrar para vocês algumas das minhas histórias favoritas.

The Last of Us


The Last of Us nos coloca numa situação sem esperança e pós-apocalíptica no ano de 2033, protagonizada por dois personagens - um adulto e uma adolescente - com nada além de desespero absoluto em torno deles. O jogo é imprevisível e possui um clima de tensão. A sociedade entrou em decadência após a proliferação de uma doença - Cordyceps Brain Infection (CBI) - que transforma as pessoas infectadas em hospedeiros violentos do fungo responsável.

Você controla Joel, um sobrevivente que faz contrabando para adquirir comida, roupa e abrigo, processo que fica mais difícil com o passar do tempo. Joel faz o necessário para se manter vivo nos EUA - agora devastado. Sua sobrevivência muitas vezes significa a morte de alguém, num mundo em que a maior ameaça são os próprios seres humanos conscientes e não os infectados.

Ocasionalmente assombrado pelo seu passado e vivendo em um presente distópico, Joel é um personagem surpreendentemente fácil de gostar. Ele é estranhamente relacionável de diversas maneiras, retendo fragmentos de sua humanidade o melhor que pode, considerando as circunstâncias extraordinárias em que vive. A relação dele com Ellie, uma guria de 14 anos que só conheceu o mundo após a catástrofe, se desenvolve muito bem e o final do jogo é extremamente emocionante. Na minha opinião é a trama do ano de 2013.



Heavy Rain


Até que ponto você está disposto a ir para salvar alguém que você ama? Esta é a pergunta central de Heavy Rain e que o protagonista, Ethan Mars, é obrigado a responder após o sequestro de seu filho. Uma metrópole americana é aterrorizada há anos por um serial killer misterioso conhecido como "Origami Killer". O inteligentíssimo criminoso ganhou o apelido ao reiterar o modus operandi de deixar um animal de origami junto ao corpo de suas vítimas, as quais são mortas afogadas com água da chuva.

Além de Ethan, você também controla três outros personagens aparentemente não relacionados que foram atraídos para o caso: o detetive Scott Shelby, o agente do FBI Norman Jayden e a jornalista Madison Paige. Conforme a trama do jogo se desenvolve, seus caminhos se cruzam e a tensão do jogo aumenta exponencialmente.

Com Heavy Rain você se sente o diretor de um filme policial e se vincula com os personagens, sendo que o destino de cada um deles está em suas mãos. O jogo possui mais de 20 finais diferentes e diversas cenas te deixarão boquiaberto.


Trilogia Mass Effect


"The pattern has repeated itself more times than you can fathom. Organic civilizations rise, evolve, advance, and at the apex of their glory they are extinguished. The Protheans were not the first. They did not create the Citadel. They did not forge the mass relays. They merely found them - the legacy of my kind." - Sovereign

Em 2148 a humanidade descobre ruínas alienígenas em Marte e, através de pesquisas científicas (detalhadamente explicadas no glossário do jogo), desenvolve-se a tecnologia "mais rápido que a luz" para viagens no espaço. Descobrimos que não estamos sozinhos no universo - diversas outras raças sapientes povoam a via láctea e se relacionam. Existe até uma espécie de ONU intergalática, em uma estação espacial gigantesca conhecida como Cidadela, liderada pelas três raças mais influentes e desenvolvidas da galáxia (as "inferiores" possuem apenas embaixadas, uma clara analogia ao conselho de segurança da própria ONU).

Você é um(a) soldado(a) humano(a) (dá pra escolher se você quer ser homem ou mulher, o jogo muda substancialmente!) com uma missão um tanto quanto grande - salvar o universo e toda a vida inteligente que há nele, tendo em vista que você descobre que máquinas robóticas inteligentes, gigantescas e misteriosas das profundezas do espaço deram sinais de que vão voltar, dando continuidade a um aparentemente infinito ciclo de "colheita" das civilizações orgânicas que se desenvolvem e colonizam outros mundos. O problema: ninguém acredita em você a não ser a tripulação da sua nave (inclusive o jeito que você se relaciona com eles é incrível) e seria necessário que toda a via láctea se unisse para fazer frente aos invasores, os quais são infinitamente superiores tecnologicamente.

Pra quem gosta de ficção científica, o jogo é um prato cheio e deixa o universo de Star Wars no chinelo (acredite). Tudo é exaustivamente explicado: a biologia e o passado das diferentes raças, a política intergalática, a história, os infinitos porquês de tudo ser como é. A Bioware (empresa responsável pelo jogo) não poupou seus cofres e contratou atores de primeira para atuarem como os personagens do jogo, nos presenteando com a sensação de viver um filme épico. A história se desenvolve de uma maneira extremamente intrigante, centrada no grande mistério que é a existência dessas máquinas - os reapers. Quais seriam seus motivos? Quem os criou? WHAT THE FUCK!?



Red Dead Redemption


Fico tentado a dizer que Red Dead Redemption está à frente de seu tempo, mas a realidade é que este é um jogo de e para a época. Rockstar, a empresa que criou o jogo, tem uma incrível capacidade de segurar um espelho para a sociedade e nos lembra que questões polêmicas atuais como o racismo, a imigração, os governos e as liberdades pessoais não são nada novas - estando profundamente enraizadas na sociedade - moldando os povos e as ideias desse mundo.

"This is America, where a lying, cheating degenerate like myself can prosper." - Nigel West Dickens

No entanto, ao invés de pregar política para você, Red Dead Redemption o coloca na pele do relativamente neutro John Marston, ex criminoso que descobre o quão difícil é deixar seu tortuoso passado para trás. Aqueles que antes eram seus amigos se tornam seus piores inimigos, sendo que Marston é obrigado a lutar sozinho pelo seu futuro numa terra sem lei que é o velho oeste americano, uma configuração clichê mas que passa bem longe disso.

O jogo tem seus momentos de ação: ir atrás de bandidos a cavalo e laçá-los como se fossem gado, lutar numa revolução mexicana (com ideais extremamente duvidosos dos dois lados) e até explodir uma ponte, mas o que realmente me cativou nesse jogo foi a história de John - como o personagem enxerga o mundo a sua volta e evolui com os desafios da vida difícil que leva. Se você for emocionalmente frágil, tome cuidado com o final desse jogo - ele pode te deixar deprimido.



Beyond: Two Souls


Em Beyond: Two souls, a vida de Jodie (Ellen Page) é marcada por uma força invisível, que nunca sai do seu lado. Aqueles que convivem com ela tem suas vidas afetadas pela forte ligação da guria com o misterioso espírito - objetos mudam de lugar, luzes apagam e acendem entre outros acontecimentos sobrenaturais.

Aiden (o espírito) tem sido parte da vida de Jodie desde sempre, lhe causando inúmeros problemas e fazendo com que seus pais adotivos lhe mandassem para uma espécies de laboratório de pesquisas para que lá pudesse crescer e receber a educação adequada, considerando as circunstâncias extraordinárias (e tristes) de sua vida. Lá ela é "adotada" pelos doutores Nathan Dawkins (Willem Dafoe) e Cole Freeman (Kadeem Hardison) que se sensibilizam com a história de Jodie e a tratam como filha.

O jogo é extraordinariamente sombrio, sendo o tema central a dificuldade de Jodie em levar uma vida normal e os problemas que seu "dom" trazem para ela, vez que muitas pessoas tentam se aproveitar de seus poderes paranormais, conferidos por Aiden, com quem ela mantém forte vínculo. Esse jogo causa profundas reflexões sobre a vida e faz você criar, assim como em Heavy Rain, forte vínculo com as personagens.

segunda-feira, 24 de março de 2014

Joaquim Barbosa - Política e Ciências Humanas



"Ao contrário do que dizem por aí a meu respeito - essa história de 'foi menino pobre, filho de um pedreiro que ascendeu na vida' - acho tudo isso uma bobagem."

"Eu não suporto essa história de um sujeito ficar escolhendo palavrinhas muito gentis para fazer algo inaceitável. E isso é da nossa cultura - o sujeito está fazendo algo ilegal, inaceitável, mas com belas palavras..."

"O Brasil é o país dos conchavos - do tapinha nas costas. O país onde tudo se resolve na base da amizade e eu não suporto nada disso. Às vezes eu sou duro para mostrar que isso não faz o menor sentido numa grande democracia como é a nossa (...) Nós estamos entre as dez grandes democracias do mundo hoje, das mais sólidas. Isso aqui não é lugar para brincadeira - e se faz muita brincadeira no Brasil."

Joaquim Barbosa é um sujeito de personalidade forte, com uma visão do direito não muito tradicional e às vezes controversa, que se tornou uma das figuras públicas mais discutidas da história de nosso país. Mesmo aqueles que não concordam com o modo de pensar do Ministro deveriam assistir a essa brilhante entrevista de Roberto D'Ávila, a qual discute a política atual do nosso país e seus problemas mais profundos, além de outros temas culturais e filosóficos muito interessantes.


 

sexta-feira, 7 de março de 2014

Beyond those Green Eyes



Hazel met green. In that moment I started going through the portal to your soul. You asked me: "what are you doing?" and I just couldn't explain it in a proper way. I was just doing what i always do when I meet someone with a semblance of substance: trying to feel them, their soul, their core and understand. You smiled anyway.

We've talked about stuff: Music, philosophy, religion, poetry (not delving into it, as you're not that fond of), and Disney/Pixar movies that my so called maturity made me blind to. Even though you haven't read any of the history or sociology books that I did, you've managed to have a strong and solid opinion about everything, making me think hard about what I've said, developing once again my own opinion about matters i thought were settled down for a while. I have felt that I could learn with you. What could lie beyond those green eyes?

For the first time ever I'm more willing to listen than to talk. My fiery spirit is kept at bay and I feel just fine listening to you talking with such passion about your dreams and the stuff you watch over and over again - even though I'm not familiar with (mostly) any of them - gazing upon that soft, pale skin and those green eyes. I wanted to ask you: what sorcery is this?

(Un)surprisingly I didn't manage to understand it all. There's this "fuck it all" philosophy of yours that made me notice a scarred soul beyond those green (or should I call them blue, like that heart?) eyes, much like mine. Once I thought about it, I felt something unique, as if the lion inside me (who was in a deep slumber since way back then) uttered a deep and prolongued roar. Now there's this need to understand what's beyond that green barrier and tear down the fears, tears and disappointments - even though i'm "such a disappointment" myself - that might reside there.

This fire inside burns as if it was fed with firewood, which is kind of scary, considering how long i've managed to drag my life without a single spark. Words seem to escape my mouth and remain slothfully in my mind, in the hope that my overeager personality won't burn away anything. I realize now more than ever that I really suck at dealing with feelings (especially new ones) and also that green eyes paralize.

The need to sleep quickly faded away from me as I've got used to night conversations, which helped me write this. When I do go to bed, I can't help but hope that there will be more in the next day. More kissing in the rain. More messy hair. More green eyes. Green eyes that hypnotize.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Crítica Literária - O Último Desejo


O Último Desejo é uma pequena coleção (318 páginas) de seis histórias vagamente conectadas por intervalos de tempo estreladas por Geralt. Originalmente lançado em 1993, na Polônia como Ostatnie Zyczenie, O Último Desejo contém alguns dos mais antigos dos contos de Geralt, embora não tenha sido o primeiro livro relacionado a esse mundo fantasioso imaginado por Andrzej Sapkowski. É, no entanto, uma excelente introdução ao personagem e ao tipo de história que Sapkowski quer contar.



Geralt é um Witcher (bruxo), um ser humano alterado, que sofreu mutações artificiais e que tem a visão aprimorada, um rápido mecanismo de cura/recuperação do seu corpo, e, supostamente, é imune à maioria das emoções humanas normais (embora algumas de suas interações com diversos personagens desmente essa afirmação). Por conta dessas alterações, Geralt é visto como uma aberração nojenta por alguns e sofre muito preconceito. Como bruxo, a tarefa de Geralt é a de vagar pelos campos e cidades, procurando e destruindo monstros para proteger os seres humanos em um mundo medieval fantástico e muito original. Embora isso possa soar um pouco como O Senhor dos Anéis, Sapkowski combina, de forma brilhante e rápida, inteligência e uma tendência a não apenas subverter esses tropos de aventura, mas torcê-los e fazê-los rodar na sua cabeça até entrarem em colapso, tornando-se experiências literárias memoráveis: não existe bem e mal definido e analogias realistas são feitas com o mundo real.

Apesar de Geralt ter sido treinado como um assassino e ter algumas habilidades impressionantes como um guerreiro, a violência não é o foco dessas histórias. Pelo contrário, este parece ser dois grandes temas envolvendo esses contos: a superação de primeiras impressões e a noção de que os monstros verdadeiros podem ter uma aparência graciosa e falar de forma bonita e convincente. Geralt discorre sobre isso em uma cena:
"Aos homens agrada inventar monstros e monstruosidades. Com isso, sentem-se menos monstruosos. Quando se embriagam, são capazes de trapacear, roubar, bater na esposa, deixar morrer de fome a velha vovozinha, matar a machadadas uma raposa pega numa armadilha ou ferir com flechas o último unicórnio do mundo. Nessas horas, gostam de pensar que a Moahir (uma espécie de demônio), que adentra suas choupanas de madrugada, é muito mais monstruosa do que eles. Aí, ficam com o coração mais leve e acham mais fácil tocar a vida adiante."
Cada um dos contos tem momentos como esse, momentos em que Geralt mostra que sua maior virtude não está no quão rápido ele pode decapitar um monstro (embora ele faça isso de vez em quando) ou quão rápido ele pode fugir de um ataque (isto também ocorre em algumas ocasiões), mas sim na forma como ele é capaz de dar uma olhada mais aguçada do que os seus companheiros (por sinal, os coadjuvantes deste livro são sensacionais) no mundo ao seu redor e no que realmente está em jogo. Há momentos de humor extremamente inteligente no livro, como quando um monstro, Nivellen, descobre que sendo generoso com o seu ouro, pode barganhar algumas filhas de comerciantes pagando um pouco mais do que o fazia pelo habitual rolo de feno. A forma que Geralt lida com Nivellen é uma das histórias mais humanas e compreensivas que eu já li neste gênero de livro, mas deixarei a conclusão para você leitor(a).

Há muitos elementos da mitologia eslava, desde várias criaturas que não possuem análogos exatos em mitologias ocidentais até códigos de comportamento, os quais tornam esta coleção um pouco mais misteriosa para mim. Eu suspeito que algumas passagens seriam engraçadas a um polonês ou a uma pessoa do leste europeu, mas que foram tomadas mais literalmente por pessoas como eu, nascido e criado no ocidente, lendo livros de procedência ocidental em sua maioria e tendo a noção mitológica grega como base fantasiosa. Talvez esta seja a principal razão pela qual, apesar de vender mais de dois milhões de cópias de seus trabalhos em alguns países europeus, Sapkowski teve de esperar quase 20 anos para a primeira publicação em língua inglesa do seu trabalho. A tradução brasileira foi muito bem feita, tão bem feita que é útil, de forma quase imperativa, deixar o dicionário ao alcance ao ler esta obra.

Conclusão


O Último Desejo é uma série de histórias curtas interligadas e o primeiro livro de sete, que contam as aventuras de um bruxo chamado Geralt. Contada por uma terceira pessoa onisciente, estes contos utilizam as aventuras fantasiosas tradicionais e brincam com elas de uma forma paródica em ocasiões. Altamente recomendado para quem gosta de uma mistura de humor e profundidade, especialmente para quem gosta de um livro para se refletir e pensar por um bom tempo.