Sete e meia da manhã. Seus olhos já não se fechavam mais - não sem grande esforço. Revirar na cama já tinha se tornado repetitivo, irritante. Tinha muito espaço nela. Decidiu finalmente se levantar. Era um Domingo ensolarado perfeito - não quente demais, com aquele sol gostoso.
Lembrou da noite anterior. Tinha chegado em casa lá pelas cinco da manhã. Conheceu duas gurias. Interessantes até, vez que naqueles momentos elas o fizeram esquecer. Mas só naqueles, não conseguiram ir além daqueles. Não tinham pele de neve, olhos grandes ou cabelos negros como o universo sem estrelas.
Saiu do quarto e foi para a cozinha. Estava sozinho em casa há mais ou menos um mês - a única coisa que restava na cozinha era um chocottone velho. Era melhor continuar sem comer nada, já que não sentia fome e a quase embolorada iguaria de natal não o apetecia.
Sabia que iria se encontrar com ela no almoço. Ela insistira em almoçar com ele num shopping, mesmo naquela bizarra e amarga situação. Os dois haviam terminado o namoro há cerca de um mês e meio antes desse Domingo. Em uma daquelas duras e doloridas conversas, completamente desnecessárias diga-se se passagem, do "pós", ele comentara que precisaria comprar roupas. Ela se mostrou interessada em acompanhá-lo e, inclusive, em se certificar de que ele se alimentaria, pelo menos naquele Domingo. Ela sabia que, quando sozinho, ele não se lembrava de comer. Ele não soube negar. Esperança talvez?
Chegou na casa dela, deu o costumeiro "toque" de celular, dessa vez com frio na barriga equivalente a um primeiro encontro e, com pontualidade britânica, os dois se dirigiram ao shopping. Falaram o necessário no trajeto, apenas para quebrar o mórbido silêncio. O triste necessário: sem calor, sem sentido, sem amor. Por que mesmo tal troca de palavras é conhecida como (des)necessário?
Passaram em umas cinco lojas. Ele experimentava, ela opinava e ele comprava. Comentava como cada uma das roupas ficava nele. Andavam juntos pelos corredores, sem dar as mãos um ao outro. Angústia? Vazio? Falta de Ar? Tudo.
Almoçaram e tocaram no assunto. Erro! Grande erro. Não havia consenso, maturidade nem força de vontade. O passado ainda recente não era favorável, nublando julgamentos. Dor para ambos no momento em que o frio da barriga se transforma em choro segurado.
Não havia porque prolongar aquilo. O Domingo continuava lindo para ele, coisa rara, tendo em vista que nunca gostou do sol. Sempre se sentiu mais confortável no escuro, no frio. Levou ela para casa. A despedida sempre era a pior e a melhor parte. Longa, dolorida, incerta, sem sentido, com sentido? Tudo se resumia em saudades, arrependimento e a inevitável dor que amadurecia.
No momento que ele pensou em ligar o carro, após o portão dela ter se fechado, seu celular toca. Era outra, a ruiva, com quem ele conversava sobre tudo (inclusive sobre a amarga situação) e, ocasionalmente, trocava beijos e carícias, desde a solteirice. Ele suspeitava que a ruiva sentia algo além do mero tesão, infelizmente com a certeza de que seu coração ainda não se abriria tão cedo para outra pessoa.
A ruiva, a qual, por força de um destino irônico, morava no mesmo condomínio dela, mencionou a beleza do dia e o convidou para passar a tarde em sua casa. Ele não pensou, aceitou.
Deu uma enrolada para parecer que não estava há menos de dois quilômetros de distância. Ao chegar lá, a guria ruiva foi recebê-lo no portão da casa e percebeu as compras no banco de trás. Descobriu que eram roupas novas dele e pediu para ver como ficavam. Ele nunca gostou nem teve a paciência de experimentar nada, mas no mesmo dia experimentou as mesmas roupas para duas pessoas diferentes, sendo que uma delas era ela. Queria ter experimentado só para ela. A ruiva comentava como cada uma das roupas ficava nele.
Após tal experiência, assistiram a um programa de televisão bobo, o qual ele não prestou muita atenção, e logo depois fizeram amor. Ou seria sexo? Sexo. Se entreolharam: conseguiu enxergar no fundo dos olhos da ruiva algo esperançoso e bonito, que paradoxalmente o deixava triste - não vinha dos grandes e profundos olhos castanhos escuros, olhos que outrora o faziam se sentir completo.
Após comer uma mousse de maracujá que a ruiva fizera, mas não sem pensar em um certo e específico muffin de blueberry, ele disse que precisava ir para casa resolver problemas de trabalho (inexistentes) para o outro dia. Preocupada e bela, a guria ruiva fez um mimo daqueles de começo de relacionamento, em que tudo é tão mágico e ideal, e que não surtiu efeito algum nele. Já tão cedo (ou tarde) pensava nela.
O pôr do sol era dos mais bonitos de sua vida, em contraste com seus pensamentos que deixavam seu coração na mais completa agonia. Sabia que iria dormir tão mal como na última noite, com tanto espaço em sua cama. Se odiou por não ter pensado em uma desculpa no momento do convite pelo celular. Colocou o som do carro em um volume condizente com o que sentia e cantou alto naquele belo domingo a música que mais fez sentido:
I just drove under the Lincoln sign
to where New Jersey meets the New York line
and through the tunnel for the last time
With everything crumbling behind
I stood still until I felt the shakes
Of two bodies that were parting ways
I didn't want to be the one to say
I know this hurts but it's time to break
In two pieces, the fault line is not secure
A boat or bridge is needed to get back to her
I feel like I am paralyzed
when I look at the extra space left in my bed
and think about all the things we did
at least I'm feeling more alive
but I still have some old weight that I've got to shed
before I find happiness
I make mountains out of my worries
and I plant pain instead of sturdy trees
I have got to wash these old sheets
so I can fall asleep
There are times, there are times I reach for the phone
to tell you that there might still be some hope
Holding on holding on to the slack of rope
but that's the whiskey talking, so
I hope that you can find some peace in life
Can you survive without me?
'Cause I thought I'd be fine.
Now I am slurring every single line.
I feel like I am paralyzed
when I look at the extra space left in my bed
and think about all the things we did
at least I'm feeling more alive
but I still have some old weight that I've got to shed
I've got to move on before I can find happiness
This isn't fair, nobody taught me (How to let go)
"Just be here now" and you'll be set free (From sorrow?)
But at this time, I don't see clearly (How will I know?)
What is the point? What is the meaning? (How to let go?)
Now I'm struggling, I black out so I can't dream
But I still see you sneaking through my weary head
I suffer from a drought of medicine to dull self-doubt
I just wanna drown you out with southern poison
If I had a drink for every Goddamn time I think
about your pale skin dressed in pink
Then at least I could sleep
If I had a shot for every Goddamn time I thought
About your face and what I've lost
At least I'd get some sleep
Sleep, sleep, at least I'd get some sleep
Sleep, sleep, then at least I'd get some sleep.