segunda-feira, 23 de novembro de 2015

The Thing About Happiness



Você só sabe que tinha felicidade quando ela já se foi.

O que eu quero dizer é que você pode pensar que está feliz, num determinado momento.

Lá no fundo você não acredita nisso de verdade.

Você se concentra numa besteira qualquer,

no próximo trabalho,

ou qualquer outra coisa.

É apenas olhando para trás,

em comparação com o que vem e o que veio depois,

que você realmente entende

que a felicidade era aquilo.

sábado, 22 de agosto de 2015

"Governar sua Própria Existência"

Vocês estão prestes a ler um texto de uma pessoa que me traumatizou muito. Mas antes, um prefácio de sua influência em minha vida.

A autora - traços nítidos de insanidade.



Devo ter conhecido a Maria Clara provavelmente no auge dos meus cinco dias de idade.

- Será que se eu cutucar esse bebê na barriga ele chora?

Eu esperneei, para seu deleite.

Acredito que ela sempre teve um prazer maligno em se aproveitar da minha inocência pueril de filho único mimado. Foi graças a ela que conheci o significado da palavra bullying (antes mesmo dela ter se tornado mainstream).

Já com uns seis anos, no rigorooooso inverno campo grandense, fui vestindo uma TOUCA ao almoço dominical de família italiana na casa de nossos avós.

- Nossa Leonardo, que radical a sua touca.
- O que é radical?
- Você nunca vai saber. Mas é radical, cara.

"Tenho certeza que significa algo horrível. Nunca mais vou usar toucas. Bosta."

Não bastasse a prima ser mais velha e me pressionar com sua maturidade, ela contava histórias tranquilas e adequadas para o público infantil quando dormíamos juntos na fazenda de nosso avô: Sobre cobras que entrariam pela janela com o único intuito de picar o meu pé enquanto eu dormia; a guria que morrera queimada numa casa abandonada no meio do mato, sendo folclórico para todos da região que seu espírito rondava pela fazenda; e sobre como aqueles psicopatas que apareciam no Linha Direta estariam me caçando e me encontrariam - caso eu fosse ao banheiro sozinho.

Traumas inesquecíveis.

Os anos voaram, nos separaram e muita coisa (boa, ruim e péssima) aconteceu na minha vida.

Já com meus 18 anos, quase levei um soco dela por ter dado em cima de sua melhor amiga, que namorava, numa ceia de natal.

- Leonardo, ela namora.
- ...
- LEONARDO!

Traumas!

Nos vimos cada vez menos quando ela começou a se mudar: Brasília, Estados Unidos, Plutão (que já não é mais um planeta) e Bielorrússia. Não importava: a loucura inerente ao nosso sangue nos tornou cada vez mais próximos.

Agradeço por tudo. Cada susto, brincadeira, bronca e trauma. 

Ela faz parte da pessoa que sou hoje.

Cada conversa hiperativa em CAPS LOCK (com ela me entendendo instantaneamente e vice-versa) me faz lembrar desse vínculo existente entre nós que, com certeza, é uma das coisas mais bonitas e puras que eu já senti. Ainda assim, eu esqueço do aniversário dela e ela do meu.

Sem mais delongas, o texto abaixo conta um pouco da história dela e faz uma reflexão sobre essa energia que existe dentro de nós, bem como a forma que ela decidiu se aproveitar disso para se tornar quem ela é - um ser inacreditável que eu muito admiro.

O CONTROLE 1 DO VÍDEO GAME CONTINUA SENDO MEU. (e essa música é você)



Pai, lembra quando você me atropelou em frente à escola? Minha mãe gritando e você "que foooooi, mulher?". E eu estava APENAS com o pé sendo esmagado por um Fiat Tipo de uns 800Kg. Você se sentiu um merda e eu me senti o máximo. Meus colegas de escola pasmos e eu só dizia: "nem doeu".

Mãe, lembra aquela vez que não tinha ninguém pra ficar com a gente em casa e entrou um ladrão? Dei de cara com o moço pendurado na sacada da sala. Corri com o Pê pro banheiro, me tranquei e deitei no chão (para os tiros da metralhadora não me acertarem, claro). Vocês se sentiram culpados e eu me senti guerreira. Meus colegas da escola chocados e eu só dizia: "antes de correr para o banheiro, salvei meu irmão mais velho".

Pai, lembra quando você foi soltar fogos com o Pedro na fazenda? O rojão estava ao contrário e explodiu na mão dele. Você se sentiu péssimo mas o Pê se sentiu corajoso. Ele conta essa história sorrindo até hoje.

E o dia que eu desmaiei por causa da dengue? Desmaiei tranquila no seu colo - meu pai é médico, vai ficar tudo bem. Acordei com você berrando desesperado "PEDRO, SOCORRO! SUA IRMÃ DESMAIOU". Mano, você tinha uns 12 anos e assistia Chiquititas escondido comigo #quédizê. Para completar levei uma bronca:

- Maria Clara, você não pode desmaiar!

Realmente, papai. Eu errei. Além de contrair propositalmente essa DST chamada dengue, decido desmaiar para ratificar seu CRM. Surpresa! Depois você se acalmou e chegou em casa com todas minhas comidas preferidas, claro. Nunca mais desmaiei. Muito menos voltei a fumar Aedes aegypti.

O ponto é: alguns erros foram os maiores acertos de vocês. Ouvi a vida inteira que vocês não me colocavam limites e hoje vejo que isso me fez encontrar os meus próprios. Tanta gente me dizendo: "você precisa colocar o pé no chão" enquanto meu pai só repetia: "minha filha, o céu é o limite".

Tudo bem que para chegar até aqui precisei tacar uma bexiga cheia de farinha no ventilador do colégio, fugir de casa aos 5 anos de idade com meu urso de pelúcia e ser expulsa de vários colégios. Mas como seria diferente? Vocês me encheram de coragem para o mundo, oras.

Pai, você não seria o melhor pai do mundo se não me atropelasse ou se não me esquecesse na escola frequentemente. Mãe, você não seria a melhor mãe do mundo sem passar pasta de dente na minha queimadura ou se deixasse de rir toda vez que eu faço alguma cagada.

Vocês são os melhores por serem vocês. Só assim aprendi a ser eu. Aprendi a rir da maioria dos meus defeitos e erros (e dos de vocês). Aprendi a viver antes de opinar "a regra é experimentar". Aprendi a respeitar as dificuldades de cada pessoa. Aprendi que dizer "você precisa mudar; você faz tudo errado; você não sabe; você é desastrado; você chega atrasado" é a forma mais efetiva de desencorajar alguém.
Aprendi que vocês também têm muito para aprender.

Todo mundo agradece aos pais pelos acertos e hoje quero agradecer pelos erros. Obrigada por mostrarem o quanto eles são importantes também.

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Personalidade de Vícios

Acredito piamente que pouquíssimas coisas na vida possam ser divididas simplesmente em boas ou ruins. Preto ou branco. A vida é cinza.



Gosto de imaginar que há uma fresta de esperança detrás até mesmo da mais escura das nuvens de uma tempestade.

É questão de perspectiva.

Às vezes o seu ponto de vista, em um determinado momento, simplesmente não vai permitir que você veja o verdadeiro significado de acontecimentos na vida que possam ser classificados como ruins; como não passar num vestibular, conseguir uma vaga de emprego muito almejada ou o fim daquele relacionamento.

A vida pode parar para nós - pelo menos temporariamente. Mas, muitas vezes, nós vamos olhar para trás, exatamente para esses eventos traumáticos, e dizer: "Até que não foi tão ruim como eu pensava". Eu mesmo sempre comentei com um amigo em determinadas situações pontuais: "Cara, um dia vamos lembrar disso e RACHAR."

Talvez após alguns meses no ninho da solidão e dos relacionamentos superficiais você tenha encontrado um(a) guri(a) "melhor" - ou um emprego que lhe satisfaça da forma que aquele, outrora dos teus sonhos, jamais o faria (aconteceu comigo!). O tempo tem esse poder incrível de nos fazer enxergar a pior catástrofe de nossas vidas como uma bênção.

Este conceito não é, de forma alguma, limitado apenas a relacionamentos ou trabalho. É uma mentalidade que você pode transpor a praticamente qualquer coisa que a vida lhe imponha - enquanto você mantiver uma perspectiva positiva. 

Minha "personalidade de vícios" começou a ser a maneira de lidar com as minhas diversas catástrofes pessoais a partir do momento que tomei consciência dela e me conheci melhor.

À primeira vista pode parecer que eu esteja querendo levar vocês para um caminho louco/retardado cuja única saída seja um centro de reabilitação ou manicômio. Prometo que minha definição de personalidade de vícios não envolve toxicodependência ou qualquer outra coisa insana (só um cadinho).

Apenas a suscetibilidade ao vício - e um entusiasmo absurdo para as coisas. O Exagero!

Acredite, se você canalizar suas paixões corretamente, você vai desejar o sucesso tanto quanto um fumante deseja o primeiro cigarro do dia.

De acordo com o site alcoholrehab.com (site internacional da luta contra alcoolismo e drogas), nem todas as pessoas com tendências a vícios vão para o fundo do poço. Muitos são líderes em suas profissões, sendo que tais "revés psicológicos" foram fundamentais para que alcançassem suas posições de sucesso.

Ao delinearmos as características notáveis da personalidade de vícios e canalizando-as para os resultados positivos, conseguimos mudar a maneira de enxergar a nossa própria disposição.
  


Paixão pelas Coisas


Caso você tenha uma personalidade de vícios, será inerentemente mais apaixonado pelas coisas do que seus pares. Embora isso possa soar como algo grandioso - cuidado - há uma linha tênue entre paixão e obsessão.

Sua paixão pode ser o seu maior trunfo, como também pode ser a sua ruína. É necessário certo esforço para distribuir essa paixão num campo mais amplo de interesses, com o intuito de evitar a fixação por uma só coisa ou atividade.

Por outro lado, faça o que fizer, não suprima essa paixão. Há sempre coisas novas e interessantes na vida - ao invés de meramente se privar de fazer algo irrazoável no contexto do momento, aplique toda essa energia em outro lugar e pare de ficar remoendo aquela impossibilidade/inconveniência.

Ansiedade Louca por Emoções


Ah, o desejo constante por excitação que define os seres com essa personalidade. Necessitamos da nossa dose semanal (ou diária) de emoção e estamos constantemente à procura de uma fonte de estímulo - seja um livro, uma série de televisão, um projeto e, principalmente, gente interessante.

Para garantir que você não seja uma vítima de vícios prejudiciais, recomendo manter-se ocupado com atividades construtivas (o que não significa atividades necessariamente ligadas ao trabalho). Caso suas intenções sejam, por exemplo, ganhar dinheiro com a sua arte, pesquise as suas opções, converse com pessoas do ramo, dê a cara a tapa e se anime com tudo que tal escolha pode te proporcionar - se esforçar com um objetivo claro em mente é bem mais fácil.

Utilizemos nossa grande tendência de criar hábitos para criarmos bons hábitos. Ler, conversar com estranhos (o "cara de pau way of life"), escrever, se manter sempre atualizado em seu campo de trabalho - tudo isso aumenta as chances de nos excitarmos com nossas próprias aspirações, que nos torna mais completos, interessantes e vivos a cada "vício" desenvolvido. 

Se defina e tome as rédeas da própria vida.

Riscos


Possuímos afinidade com a ideia de assumir riscos e seus desafios. Naturalmente, há um senso de vulnerabilidade que acompanha tal assunção.

Diante deste fato, acredito ser bom termos algo a perder. Significa que aquela coisa, ideia ou pessoa que conquistamos possui grande valor para nós - o que é admirável por si só.

Riscos fazem parte de nossas vidas, como também do sucesso. As conquistas mais notáveis da história da humanidade podiam ter dado errado em algum momento e só aconteceram porque alguém teve o culhão de arriscar muito para continuar lutando pelos seus ideais.

Exemplo de um cara que arriscou tudo (literalmente TUDO) por um ideal próprio: Mohandas Karamchand Gandhi.

Ao pular de cara nos desafios inerentes ao "novo" da vida, certifique-se de que você tem certa noção (uma vez que a certeza é impossível) das consequências potenciais de um passo em falso, apenas para que você fique pronto para se reerguer caso seja necessário.

Inconformismo


Há uma fortíssima ligação entre o inconformismo e pessoas com personalidades de vícios. Em diversas situações, nos vemos como rebeldes, agindo de acordo com ideais que não são necessariamente previstos pelas consolidadas "regras" da sociedade.

Steve Jobs, por exemplo, se envolveu com uma variedade de drogas, quase nunca (ou nunca?) usava sapatos (o que seria um crime previsto em diversos dress codes empresariais por aí!) e implementou a ideologia do inconformismo em seu ambiente de trabalho - trazendo de lambuja mudança para o mundo em que vivia.

Dito isto, é de suma importância lembrar que o mundo não gira em torno de você ou da sua linha de raciocínio - nem todos conseguirão enxergar o mundo da sua forma maravilhosa e única, por mais que você se esforce muito na explicação.

Seja paciente (tive calafrios ao escrever essa palavra que representa a antítese da minha essência). Seja respeitoso e, ao longo do tempo, aplique sua visão delicadamente e a desenvolva gradualmente. Há uma boa chance de seus pontos de vista "absurdos" serem compreendidos e até admirados. O sucesso é o mestre da persuasão quando se trata de mudar a opinião das pessoas.

Falei que era uma questão de perspectiva.

quinta-feira, 23 de abril de 2015

The Howling Lion



Oi.

Quero que você venha comigo para a eternidade.

O flagelo da terra é o tempo,

que como uma energia alienígena do espaço

a conquista,

envolvendo-a completamente e a devorando.

Fora dela, ele suga um fluxo constante de vida em si mesmo

e na existência,

desgastando, envenenando e destruindo-o de todas as formas.

A vida, em todas as formas, clama por misericórdia;

o homem, pela liberdade.

No entanto, nada pode resistir à sua atração irresistível

que nos compele a viver e viver novamente.

Eis o mistério da vida e da existência.

Por favor, feche os olhos.

Entre no silêncio, no vazio eterno.

Se você pode encontrar o amor

ou conhecimento suficiente de si mesmo,

você vai permanecer consciente e perceber,

quanto mais fundo você for,

que você já esteve ali muitas vezes antes.

Mas se o seu amor ainda não é suficiente

para mantê-lo acordado,

você ficará inconsciente

e quando essa viagem chegar ao fim,

você acordará em um mundo equivalente ao teu amor e consciência.

Você estará mais em casa do que nunca em sua vida.

De qualquer maneira,

consciente ou inconsciente,

você chegará ao final da jornada.

Só então você perceberá que o amor é a coisa mais importante na vida.

E que o mundo dos vivos existe puramente para a demonstração de mais amor.

Você verá o quão longe ele está do amor.

E você vai querer dizer ao mundo inteiro o que você descobriu.

Dizer não, gritar!

Mas isso não será possível,

porque você tem que descobrir isso e declará-lo e vive-lo enquanto você ainda vive.

Cada um deve descobrir o segredo do amor por si só,

se não antes de morrer,

então depois.

Ninguém pode ser ensinado.

Este é um mundo em que nunca vivemos com tempo emprestado.

Seu flagrante desrespeito pela justiça de quem realmente deve a quem,

quem realmente deve o quê,

cria a injustiça cruel

o desequilíbrio que nunca para de crescer

entre os pobres e os ricos,

os deficientes e os fortes,

os famintos e os glutões,

os privados e os privilegiados.

Tão terrível e mal equilibrada a nossa realidade,

que apenas o fim dos tempos,

pode acertar as contas.

Estamos aqui para a terra.

Estamos aqui para a vida.

Estamos aqui para nos tornarmos cósmicamente inteligentes e sábios.

Quando um número suficiente de nós atingir a maturidade cósmica,

vamos atingir a vida cósmica e participar dessa realidade inconcebível.

Estou aqui para te ajudar.

Adeus.

terça-feira, 21 de abril de 2015

The Howling Fox



Pare e pense: como você se sente sobre a perspectiva de desaparecer para sempre

tudo que você foi, é e seria - todos os seus pensamentos.

Todos os seus esforços, todas as suas realizações e experiências

se transformando em pó, em nada.

Qual é a sensação? O que acontece?

Eu acho curioso que na poesia do mundo, este é um tema muito comum:


Assim, deste modo, ao ver que o nada é a realidade fundamental

você vê que é a sua realidade.

Então como pode qualquer coisa contaminar você?

Toda a ideia de você estar com medo

insegura

ou desesperada

não é nada.

Uma ilusão.

Porque nós na realidade

não somos nada.

Então anime-se!

O sol, as estrelas, as montanhas e os rios

homens bons e maus, animais, insetos e tudo mais.

Todos estão contidos no vazio.

Então fora desse vazio vem tudo e você é ele.

O que mais poderia ser?

Se alguém argumentar que a realidade básica é o nada

de onde é que tudo isto vem?

Obviamente, a partir do nada.

domingo, 1 de março de 2015

E se o propósito do amor for o de nos livrar dos relacionamentos e não nos prender a eles?

No texto abaixo cito diversos outros que utilizei como pesquisa para embasar e sustentar minha opinião (você pode acessá-los clicando nas palavras grifadas em laranja).


Ultimamente venho defendendo que a humanidade está preguiçosa quando se trata de pensar e filosofar. Temos como ideais coisas que nos são ensinadas desde cedo, na infância, sobre os objetivos reais da vida e, no nosso caso aqui no Brasil, tais ideais são: nascer, crescer, estudar, trabalhar, se casar, ser "fiel", ter filhos e ensiná-los que a vida é assim e, em nenhum momento, dar uma freada no modo automático e pensar no por quê de tudo isso, de tanta repressão própria quando se trata dos nossos sentimentos quando estes fogem do que a sociedade massificada espera da gente e, principalmente, se estamos agindo em busca da nossa real felicidade.

Certa vez li numa revista que o famoso antropólogo biológico Melvin Konner perguntou a uma sala cheia de alunos de graduação qual seria o propósito do amor. De forma teatral, ele permitiu que alguns respondessem para, logo em seguida, martelar a sua verdade na cabeça de todos.

"E se o objetivo do amor não é levar as pessoas para relacionamentos, mas livrar-nos deles?", perguntou Konner, autor de mais de meia dúzia de livros sobre a natureza humana. "Pense nisso" - insistiu ele - "O amor nos faz irracionais. E o que é mais irracional (em um universo em que há certamente mais possibilidades ruins do que boas) do que deixar a segurança de uma relação já existente para se apaixonar por outra pessoa?"

A pergunta de Konner, como uma questão filosófica e moral, não pode ser respondida pela ciência. No entanto, a ciência, especificamente a antropologia biológica, pode nos dizer como e, mais importante, por que os seres humanos tendem a agir da maneira que fazemos quando nos apaixonamos.

S.O.S. Amor


A visão ocidental tradicional de amor romântico - a qual o filósofo e Ph.D. AAron Ben-Zeév chama de Ideologia Romântica - mapeia um fênomeno que psicólogos chamam de limerência, qual seja, a felicidade inicial causada pela emoção de se apaixonar. E, enquanto a expressão da limerência no nosso dia a dia é definida pela cultura em que vivemos, o processo subjacente é antigo e evolucionário, presente em diversos mamíferos.

Apaixonar-se (ou algo parecido) foi bem caracterizado em ratos silvestres monómagos, por exemplo. Nestes animais, uma série de experimentos estabeleceram que os hormônios liberados quando duas ratazanas da pradaria acasalam - ocitocina e vasopressina - afetam seus neurônios na parte do cérebro responsável pela sensação de recompensa, sendo que o mesmo acontece com nós humanos. Incrivelmente, trata-se da mesma parte ativada quando utilizamos drogas viciantes, levando os cientistas a afirmarem que, de fato, as drogas "sequestram" esse nosso sistema que evoluiu ao longo dos milênios e que nos permite sentir o fenômeno da paixão.

Enquanto a neurobiologia do amor pode funcionar de forma análoga em humanos como ela funciona em ratazanas, nós não a entendemos tão bem como elas. Há um limite para o que essa linha de investigação pode nos dizer sobre a natureza ou o "propósito" do amor. Para obtermos respostas mais concretas, temos de olhar para as consequências do amor - coisas que são facilmente definidas e medidas. Uma das principais consequências para os seres humanos é uma tendência monogâmica, uma falsa sensação de posse combinada com um costume cultural de acreditar que não precisaremos de mais ninguém no mundo para nos satisfazer como companheiros. No entanto, basta olhar ao teu redor (ou para si mesmo) que constatará infinitos exemplos de amores que acabaram se separando, mentindo ou enganando o outro numa clara contradição ao ideal por nós concebido como verdadeiro.

A monogamia humana é um mito.


A monogamia é raríssima. Apenas cerca de 3 a 5% das espécies mamíferas catalogadas no mundo a praticam ao longo da vida, sendo ainda mais rara nas aves e répteis. Nos seres humanos ela é um pouco mais comum. No entanto, se você estudar as culturas humanas pré industriais, que até cerca de 50 anos atrás significava a maior parte das culturas do planeta, constatará que em torno de 80% delas havia algum tipo de não monogamia.

Um livro popular no exterior chamado Sex at Dawn argumenta, essencialmente, que os seres humanos viveram uma época pacífica pré ciúme poliamorosa que foi arruinada pela nuvem negra do patriarcado, agricultura (gradualmente acabando com as culturas nômades) e monoteísmo que cresceram notavelmente no final da idade clássica e início da idade média. Mas, como David P. Barash, professor de psicologia da Universidade de Washington, sustenta, a realidade é muito menos idílica. A esmagadora maioria das culturas, no passado, praticavam a poliginia, uma subespécie de poligamia em que só os homens possuem mais de um parceiro(a).

Enquanto a era Vitoriana (transição do racionalismo da era Georgiana para o romantismo e misticismo religioso) reprimiu a ideia da poligamia, pelo menos no ocidente, as taxas de divórcio atuais indicam que os seres humanos estão caminhando de volta para os grandes níveis históricos do passado em termos do número de parceiros que possuímos ao longo da vida. Nos EUA, os especialistas estimam que entre 40 e 50% de todos os casamentos terminam em divórcio (aqui no Brasil o número vem aumentando). Isso não é atípico para outros países com níveis semelhantes de renda per capita. Lembrando que tais dados não incluem a vasta gama de relações "sérias mas não oficiais" que se tornaram a norma no século XXI.

Em todas essas uniões, re-uniões, e desuniões, vemos a pegada do amor em si. Claramente algo está levando os seres humanos a mudar seu parceiro de dança com certa frequência.



Humanos tendem a ser socialmente monogâmicos em série.


Mesmo os animais que criam vínculo com um único parceiro para a vida, como a monogâmica ratazana da pradaria, realizam copulações extra conjugais que podem resultar em prole. Este tipo de comportamento é comum em algumas espécies de aves, onde uma minoria de ovos de uma ninhada colocado por uma mãe em uma relação monogâmica, muitas vezes podem ter sido fertilizados por um macho diferente de seu parceiro fixo. Os animais que tendem a ficar juntos mas que às vezes dão uma pulada de cerca são conhecidos como "socialmente monogâmicos".

Em suas palestras, Konner caracteriza o ser humano como "socialmente monogâmico em série", um aceno para o fato de que em todas as culturas da história os seres humanos tendem a manter a monogamia estrita ou meramente social com uma série de parceiros ao longo da vida, e não apenas com uma única pessoa.

O milagre aqui não é que os seres humanos são, por vezes, não monogâmicos, mas que em comparação com o resto do mundo animal os seres humanos são plenamente monogâmicos - por um período de tempo. Mais uma vez vemos evidência da natureza do amor em nós humanos - ele nos liga magicamente, mesmo que apenas por um período, sem que precisemos reprimir nossa quase constante vontade e curiosidade de conhecer pessoas novas e interessantes.

Humanos são flexíveis por natureza.


Algumas pesquisas sugerem que a tendência de possuir vários parceiros está inscrita nos genes dos homens e das mulheres. Mas a incrível diversidade de sistemas de acasalamentos criados ao longo de nossa história (desde poliginia moderna em sociedades islâmicas a monogamia forçada em sociedades com influências culturais cristãs), mostram que nossa flexibilidade cultural e psicológica nos permite certo livre arbítrio em como conduzimos nossos relacionamentos.

Como prova de nossa flexibilidade, basta olharmos para as taxas de infidelidade, que nos EUA vêm mudando para as mulheres, mas não para os homens. Isto, em parte, está ligado ao aumento do poder econômico e social das mulheres que, finalmente, vêm se libertando dessa sociedade patriarcal atrasada e adquirindo autonomia, uma vez que tanto homens como mulheres possuem, em regra, a ligação da infidelidade com poder e confiança. Como seres com o raciocínio de ordem superior e a capacidade de planejar o futuro, priorizando outras coisas que não nossos instintos primordiais mais básicos, nós somos capazes de escolher (ou sermos inconscientemente forçados a escolher por conta da forte pressão sociocultural moderna) como lidar com quase tudo de nossas vidas - eis nossa flexibilidade incrível.

Afinal de contas, qual o real propósito do amor?


Não sabemos quase absolutamente nada, no sentido evolutivo das espécies, sobre qual o real propósito do amor. Quando Konner perguntou para a classe: "Para que serve o amor?" ele quis dizer, como um antropólogo biológico, "qual é a utilidade do amor para a sobrevivência da nossa espécie?" Mas, como muitas vezes ele lembra, tais questões são inerentemente irrespondíveis, uma vez que a evolução não é um processo com o tipo de vontade ou intencionalidade que tal questão implicaria. Em seu mundo científico, pelo menos, não há nenhum criador todo poderoso que orienta o processo da longa narrativa dos seres humanos através dos milênios - não havendo tal evolução (o amor) finalidade alguma, sendo mero acaso biológico assim como nosso cérebro ultra complexo em comparação com os demais seres vivos.

Seria irrazoável supor que, no sentido de que a maioria de nós entende, um dos propósitos de amar, compatível com a ligação de duas pessoas, seria de nos deixar loucos o suficiente para nos "livrarmos" do parceiro atual e iniciarmos uma nova relação? Certamente a esmagadora evidência de nossos genes e da história das sociedades humanas é que algo está nos incentivando a se apaixonar por outras pessoas constantemente e o mais incrível é que esse mesmo mecanismo nos leva a gostar de uma pessoa particular em primeiro lugar.

Penso que nos limitamos cada vez que nos reprimimos ou mentimos para nosso parceiro com a finalidade de respondermos ao nosso instinto da paixão. Acredito piamente que é possível amar um indivíduo único e específico, mas não acredito que ao longo do tempo não conhecerei ninguém interessante que torne minha vida mais rica e tal evento, de forma alguma, implicaria na obrigatoriedade de cortar vínculos com a pessoa que amo, nem que eu a reprimiria caso ela o fizesse. De fato, acredito tanto nisso que calculo ser a única solução saudável para que relacionamentos de longuíssimo prazo não terminem em rancor, lágrimas e ódio.

Acredito, por fim, que essa sensação de posse que temos em relação ao outro, o ciúme que nos enlouquece só de imaginarmos os respectivos parceiros conhecendo ou se relacionando com alguém interessante e a mentira, venenos infinitamente mais fatais aos relacionamentos do que a aceitação do fato de que nem homem nem mulher são naturalmente monogâmicos. Portanto, acredito que o propósito real do amor em toda sua plenitude seja a superação da palavra relacionamento, que nada mais é do que a tentativa de artificializar um sentimento humano inexplicável.

Ame e deixe amar - toda experiência nos engrandece, toda repressão nos diminui.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Love Early On

Sou um cara solteiro de vinte e tantos anos, que atualmente zomba a ideia de casamento como ele é e das expectativas da sociedade sobre quando as pessoas devem se casar. Alguns já ouviram minha opinião sobre as pressões que sofremos por conta da nossa bagagem histórica e cultural que leva a maioria das pessoas a rapidamente escolher uma faculdade e depois arranjar um emprego para depois casar, ter filhos e se "estabelecer" cedo nessa vida.

Isso tudo nem sempre é certo e desejável para todos.



Hoje sou (infinitamente) menos idealista, mais independente e forte - ficar solteiro por um tempo razóavel certamente fez com que tudo isso acontecesse. Mas preciso lhe confessar que às vezes me pego desejando ter encontrado o amor mais cedo na minha vida.

Quando eu estava no final da minha adolescência, eu me apaixonava imprudentemente. Sempre enxergava potencial nas pessoas que me interessavam para o futuro e pequenas falhas nunca me incomodavam, porque elas eram apenas isso - pequenas falhas.

Havia um grande misto de excitação e esperança sem igual, incomparável com o que eu sinto agora quando eu começo a sair com alguém.

Definiria tudo como uma explosão de hormônios e emoções.

Eu era jovem e apaixonado - naqueles tempos isso bastava. Hoje em dia lembro-me desses sentimentos enquanto eu navego em encontros cegos e romances de Tinder com cautela, desejando que tudo voltasse a ser fácil como fora outrora.

Estudo as pessoas que só conhecem esse tipo ingênuo de amor - o tipo fácil e simples, que não envolve esse turbilhão de ideias geradas pela maturidade.

Entre quando eu senti pela primeira vez borboletas no estômago por uma guria e agora, aprendi o outro lado do amor, sobre o qual já escrevi nesse blog.

Percebi que à medida que ficamos mais velhos, os riscos aumentam, o que pode tirar um pouco da graça de se apaixonar. Você não está mais apenas passando tempo com a pessoa que faz o teu coração bater mais rápido pelo simples prazer de fazê-lo. Há expectativas do outro lado, uma vez que estamos caminhando para a vida "adulta" e fomos criados em uma sociedade com bagagem cultural fortemente cristã.

Todo mundo se torna uma combinação de prós e contras meticulosamente analisados.

Você não pode sair com alguém por algumas semanas sem que teus amigos e a família comecem a perguntar se aquilo já é "sério". Muitas vezes não posso ficar com alguém por algumas semanas sem que eu seja questionado por tal pessoa sobre essa "seriedade". O que é sério? Pra que serve isso?

O que costumava ser divertido tornou-se uma confusão de prazos e expectativas.
   

Eu sei o que você quer dizer para mim - cada caminho é diferente e as nossas experiências moldam quem somos e que um dia, alguém vai aparecer e fará tudo isso valer a pena. E na real? Eu acredito nisso. Pelo menos alguns dias da semana.

Mas eu não deixo de me perguntar o que seria ter evitado certas angústias. Ter me apaixonado definitivamente aos 20 e nunca ter conhecido o Tinder, participado de encontros cegos ou ter que adivinhar o significado de mensagens de texto enigmáticas.

Teria sido mais fácil? Seria eu mais feliz?

Provavelmente seria apenas um caminho diferente, cheio de desafios próprios. Eu nunca saberei, uma vez que não encontrei o amor cedo na vida.

Eu ainda tenho esperança. Espero que a guria certa, com cabeça aberta e paixão por longas conversas e prazeres apareça na minha vida para que eu me apaixone com facilidade e de forma pacífica, sem cobranças do porquê eu não respondi o WhatsApp em menos de 7 segundos ou do porquê eu quis sair sozinho em determinado final de semana. Algo divertido, emocionante e com infinitas possibilidades.

E, enquanto isso, acho que continuarei brincando no Tinder, indo em péssimos encontros e rindo disso com meus amigos enquanto tomamos umas.

Até mesmo porque, um dia, essas histórias serão apenas lembranças engraçadas.

sábado, 17 de janeiro de 2015

The Man In The High Castle

Quem já teve uma conversa um pouco mais profunda comigo sabe que sou extremamente fascinado por história. Quem já brisou comigo, sabe que uma das minhas brisas favoritas é se perguntar: "e se tal coisa tivesse acontecido em determinado momento da história, como a humanidade estaria?". Responder a tais perguntas sem respostas e ler artigos de historiadores que se dão a esse trabalho são grandes deleites da minha vida. A Amazon Prime ouviu as preces do meu subconsciente hiperativo e faminto por discussões ao decidir adaptar o maravilhoso livro "what if" que é The Man In The High Castle, de Philip K. Dick, em uma série televisiva.


A série se passa no ano de 1962, num mundo em que as potências do eixo venceram a segunda guerra mundial. A Alemanha, o Japão e a Itália, numa espécie de Tratado de Tordesilhas moderno, dividem o domínio do mundo entre si.

DETALHES GEOPOLÍTICOS!

A história trata da perspectiva de diversas pessoas vivendo nos Estados Unidos derrotados. A visão de Dick deste cenário alternativo é tensa e perturbadora, nos providenciando uma dura sensação de como as coisas poderiam ser caso os aliados perdessem a segunda guerra.

A fantasia de Dick começa em 1933, quando Roosevelt é assassinado antes de conseguir se tornar o forte e decisivo presidente, o qual implementaria diversas políticas que culminariam nos Estados Unidos vitoriosos e em ascenção global no período pós guerra. Nessa história, os dois presidentes posteriores são fracos e não conseguem estabilizar os EUA nos anos pós grande depressão.

Como os americanos se encontram fracos e submissos ao crescente poder da Alemanha nazista e do Japão imperial, eles se mantém neutros, não auxiliando a Grã-Bretanha, França e a Rússia na grande guerra. Rapidamente a Alemanha conquista seus inimigos de forma definitiva em 1941.

Os japoneses tomam proveito da fraca situação dos EUA e atacam Pearl Harbor, destruíndo a frota pacífica americana em um único dia e, logo após, invadem o Hawaii. Nos próximos anos, os EUA são invadidos pelas forças do eixo, com o Japão conquistando a a costa oeste e os nazistas a leste. Em 1947 todos os oponentes das forças do eixo se rendem.

São Francisco, CA

Logo após, os EUA são divididos entre Japão e Alemanha, sendo que as cadeias montanhosas se mantiveram independentes e servem como fronteira entre os dois impérios. Na Europa as coisas são muito piores, uma vez que os nazistas aplicam políticas horrendas em nome do avanço científico. Por conta disso, a tecnologia avança de forma mais rápida do que em nossa realidade. Um exemplo é a drenagem do mar mediterrâneo, tornando-o em uma planície fértil.

Um mega holocausto ocorre contra a população eslava. Milhões são mortos em um genocídio, exterminando as culturas polonesa e russa, além da igreja ortodoxa. Os poucos eslavos sobreviventes se encontram em refúgios na américa do norte e na sibéria. O holocausto também acontece na África, e a escravidão negra é reimplementada pelos nazistas. Nos EUA do leste, aqueles que são considerados fracos ou inúteis para o novo regime também são exterminados.

Times Square, NY

Aguardo ansiosamente para ver como eles irão adaptar o tema da ilusão versus realidade que aparece na obra de Dick, além da necessidade pública de se encaixar nessa nova sociedade que leva as pessoas a fazerem (ou ignorarem) quase todo e qualquer absurdo. Fico feliz de investirem numa série com um tema histórico-social-psicológico tão rico. Que a série seja um sucesso e inspire pessoas a se interessarem mais pelos estudos históricos que sempre explicaram e explicam os porquês das nossas políticas globais e das nossas diferenças socioculturais.